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Elcana e suas mulheres
1 Houve um homem de Ramataim-Zofim, da
região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de
Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de
Zufe, efraimita.
2 Tinha ele duas mulheres: uma se chamava Ana, e a outra Penina. Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha.
3 De ano em ano este homem subia da sua cidade para adorar e sacrificar
ao Senhor dos exércitos em Siló. Assistiam ali os
sacerdotes do Senhor, Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli.
4 No dia em que Elcana sacrificava, costumava dar porções a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos e filhas;
5 porém a Ana, porque a amava, dava porção dupla, ainda mesmo que o Senhor lhe havia cerrado a madre.
6 Ora, a sua rival muito a provocava para irritá-la, porque o Senhor lhe havia cerrado a madre.
7 E assim sucedia de ano em ano que, ao subirem à casa do
Senhor, Penina provocava a Ana; pelo que esta chorava e não
comia.
8 Então, Elcana, seu marido, lhe perguntou: Ana, por que choras? E porque não comes?
E por que está triste o teu coração? Não te sou eu melhor de que dez filhos?
A oração e o voto de Ana
9 Então, Ana se levantou, depois que comeram e
beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava sentado, numa cadeira,
junto a um pilar do templo do Senhor.
10 Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou muito,
11 e fez um voto, dizendo: Ó Senhor dos exércitos! Se
deveras atentares para a aflição da tua serva, e de mim
te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe deres um
filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e
pela sua cabeça não passará navalha.
12 Continuando ela a orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca;
13 porquanto Ana falava no seu coração; só se
moviam os seus lábios, e não se ouvia a sua voz; pelo que
Eli a teve por embriagada,
14 e lhe disse: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.
15 Mas Ana respondeu: Não, Senhor meu, eu sou uma mulher
atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida forte,
porém derramei a minha alma perante o Senhor.
16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da
multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado
até agora.
17 Então, lhe respondeu Eli: Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste.
18 Ao que disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos.
Assim, a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e já não
era triste o seu semblante.
Nasce Samuel e é consagrado a Deus
19 Depois, levantando-se de madrugada, adoraram
perante o Senhor e, voltando, foram a sua casa em Ramá. Elcana
conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela.
20 De modo que Ana concebeu e, no tempo devido, teve um filho, ao qual
chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.
21 Subiu, pois, aquele homem, Elcana, com toda a sua casa, para
oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir o seu voto.
22 Ana, porém, não subiu, pois disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então
o levarei, para que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre.
23 E Elcana, seu marido, lhe disse: faze o que bem te parecer; fica
até que o desmames; tão-somente confirme o Senhor a sua
palavra. Assim, ficou a mulher e amamentou seu filho, até que o
desmamou.
24 Depois de o ter desmamado, ela o tomou consigo, com um touro de
três anos, uma efa de farinha e um odre de vinho, e o levou
à casa do Senhor, em Siló; e era o menino ainda muito
criança.
25 Então, degolaram o touro, e trouxeram o menino a Eli;
26 e disse ela: Ah, meu Senhor! Tão certamente como vive a tua
alma, meu Senhor, eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, orando
ao Senhor.
27 Por este menino orava eu, e o Senhor atendeu a petição que eu lhe fiz.
28 Por isso eu também o entreguei ao Senhor; por todos os dias
que viver, ao Senhor está entregue. E adoraram ali ao Senhor.
O cântico de Ana
2 Então, Ana orou e disse: O meu
coração exulta no Senhor; o meu poder está
exaltado no Senhor; a minha boca dilata-se contra os meus inimigos,
porquanto me regozijo na tua salvação.
2 Ninguém há santo como o Senhor; não há
outro fora de ti; não há rocha como a nosso Deus.
3 Não faleis mais palavras tão altivas, nem saia da vossa
boca a arrogância; porque o Senhor é o Deus da sabedoria,
e por ele são pesadas as ações.
4 Os arcos dos fortes estão quebrados, e os fracos são cingidos de força.
5 Os que eram fartos se alugam por pão, e deixam de ter fome os
que eram famintos; até a estéril teve sete filhos, e a
que tinha muitos filhos enfraquece.
6 O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer ao Seol e faz subir dali.
7 O Senhor empobrece e enriquece; abate e também exalta.
8 Levanta do pó o pobre, do monturo eleva o necessitado, para os
fazer sentar entre os príncipes, para os fazer herdar um trono
de glória; porque do Senhor são as colunas da terra,
sobre elas pôs ele o mundo.
9 Ele guardará os pés dos seus santos, porém os
ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem
não prevalecerá pela força.
10 Os que contendem com o Senhor serão quebrantados; desde os
céus trovejará contra eles. O Senhor julgará as
extremidades da terra; dará força ao seu rei, e
exaltará o poder do seu ungido.
11 Então, Elcana se retirou a Ramá, à sua casa. O menino, porém, ficou servindo ao Senhor perante
o sacerdote Eli.
Os crimes dos filhos de Eli
12 Ora, os filhos de Eli eram homens ímpios; não conheciam ao Senhor.
13 Porquanto o costume desses sacerdotes para com o povo era que,
oferecendo alguém um sacrifício, e estando-se a cozer a
carne, vinha o servo do sacerdote, tendo na mão um garfo de
três dentes,
14 e o metia na panela, ou no tacho, ou no caldeirão, ou na
marmita; e tudo quanto a garfo tirava, o sacerdote tomava para si.
Assim faziam a todos os de Israel que chegavam ali em Siló.
15 Também, antes de queimarem a gordura, vinha o servo do
sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá carne de assar
para o sacerdote; porque não receberá de ti carne cozida,
mas crua.
16 Se lhe respondia o homem: Sem dúvida, logo há de ser
queimada a gordura e depois toma quanto desejar a tua alma.
Então, ele lhe dizia: Não; hás de dá-la
agora; se não, à força a tomarei.
17 Era, pois, muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens vieram a desprezar a oferta do Senhor.
A mocidade de Samuel
18 Samuel, porém, ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de um éfode de linho.
19 E sua mãe lhe fazia de ano em ano uma túnica pequena,
e lha trazia quando com seu marido subia para oferecer o
sacrifício anual.
20 Então, Eli abençoava a Elcana e a sua mulher, e dizia:
O Senhor te dê desta mulher descendência, pelo
empréstimo que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar.
21 Visitou, pois, o Senhor a Ana, que concebeu, e teve três
filhos e duas filhas. Entrementes, o menino Samuel crescia diante do
Senhor.
Eli repreende os seus filhos
22 Eli era já muito velho; e ouvia tudo quanto
seus filhos faziam a todo o Israel, e como se deitavam com as mulheres
que ministravam à porta da tenda da congregação.
23 E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Pois ouço de todo este povo os vossos malefícios.
24 Não, filhos meus, não é boa fama esta que ouço. Fazeis transgredir o povo do Senhor.
25 Se um homem pecar contra outro, Deus o julgará; mas se um
homem pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele? Todavia,
eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria
destruir.
26 E o menino Samuel ia crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos homens.
Profecia contra a casa de Eli
27 Veio um homem de Deus a Eli, e lhe disse: Assim diz
o Senhor: Não me revelei, na verdade, à casa de teu pai,
estando eles ainda no Egito, sujeitos à casa de Faraó?
28 E eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu
sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso, e para
trazer o éfode perante mim; e dei à casa de teu pai todas
as ofertas queimadas dos filhos de Israel.
29 Por que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que
ordenei se fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos
mais de que a mim, de modo a vos engordardes do principal de todas as
ofertas do meu povo Israel?
30 Portanto, diz o Senhor, Deus de Israel: Na verdade eu tinha dito que
a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente.
Mas agora o Senhor diz: Longe de mim tal coisa, porque honrarei aos que
me honram, mas os que me desprezam serão desprezados.
31 Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o
braço da casa de teu pai, para que não haja mais
ancião algum em tua casa.
32 E tu, na angústia, olharás com inveja toda a
prosperidade que hei de trazer sobre Israel; e não haverá
por todos os dias ancião algum em tua casa.
33 O homem da tua linhagem a quem eu não desarraigar do meu
altar será para consumir-te os olhos e para entristecer-te a
alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão pela espada
dos homens.
34 E te será por sinal o que sobrevirá a teus dois
filhos, a Hofni e a Fineias; ambos morrerão no mesmo dia.
35 E eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que fará segundo
o que está no meu coração e na minha mente.
Edificar-lhe-ei uma casa duradoura, e ele andará sempre diante
de meu ungido.
36 Também, todo aquele que ficar de resto da tua casa
virá a inclinar-se diante dele por uma moeda de prata e por um
pedaço de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a
algum cargo sacerdotal, para que possa comer um bocado de pão.
Deus fala com Samuel numa visão
3 O menino Samuel servia ao Senhor perante
Eli. E a palavra do Senhor era muito rara naqueles dias; as
visões não eram frequentes.
2 Sucedeu naquele tempo que, estando Eli deitado no seu lugar (ora, os
seus olhos começavam já a escurecer, de modo que
não podia ver),
3 e ainda não se havendo apagado a lâmpada de Deus, e
estando Samuel também deitado no templo do Senhor, onde estava a
arca de Deus,
4 o Senhor chamou: Samuel! Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui.
5 E correndo a Eli, disse-lhe: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas
ele disse: Eu não te chamei; torna a deitar-te. E ele foi e se
deitou.
6 Tornou o Senhor a chamar: Samuel! E Samuel se levantou, foi a Eli e
disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não
te chamei, filho meu; torna a deitar-te.
7 Ora, Samuel ainda não conhecia ao Senhor, e a palavra de Senhor ainda não lhe tinha sido revelada.
8 O Senhor, pois, tornou a chamar a Samuel pela terceira vez. E ele,
levantando-se, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste.
Então, entendeu Eli que o Senhor chamava o menino.
9 Pelo que Eli disse a Samuel: Vai deitar-te, e há de ser que,
se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Foi,
pois, Samuel e deitou-se no seu lugar.
10 Depois, veio o Senhor, parou e chamou como das outras vezes: Samuel!
Samuel! Ao que respondeu Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.
11 Então, disse o Senhor a Samuel: Eis que vou fazer uma coisa
em Israel, a qual fará tinir ambos os ouvidos a todo o que a
ouvir.
12 Naquele mesmo dia, cumprirei contra Eli, de princípio a fim, tudo quanto tenho falado a respeito da sua casa.
13 Porque já lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para
sempre, por causa da iniquidade de que ele bem sabia, pois os seus
filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu.
14 Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será
expiada a sua iniquidade, nem com sacrifícios, nem com ofertas.
Samuel conta a visão a Eli
15 Samuel ficou deitado até pela manhã,
e então abriu as portas da casa do Senhor; Samuel, porém,
temia relatar essa visão a Eli.
16 Mas chamou Eli a Samuel, e disse: Samuel, meu filho! Ao que este respondeu: Eis-me aqui.
17 Eli perguntou-lhe: Que te falou o Senhor? Peço-te que
não mo encubras; assim Deus te faça, e outro tanto, se me
encobrires alguma coisa de tudo o que te falou.
18 Samuel, pois, relatou-lhe tudo, e nada lhe encobriu. Então,
disse Eli: Ele é o Senhor, faça o que bem parecer aos
seus olhos.
19 Samuel crescia, e o Senhor era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas palavras cair em terra.
20 E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor.
21 E voltou o Senhor a aparecer em Siló; porquanto o Senhor se
manifestava a Samuel em Siló pela sua palavra. E chegava a
palavra de Samuel a todo o Israel.
Os filisteus vencem os israelitas
4 Ora, saiu Israel à batalha contra
os filisteus, e acampou-se perto de Ebenézer; e os filisteus se
acamparam junto a Afeque.
2 E os filisteus se dispuseram em ordem de batalha contra Israel; e,
travada a peleja, Israel foi ferido diante dos filisteus, que mataram
no campo cerca de quatro mil homens do exército.
3 Quando o povo voltou ao arraial, disseram os anciãos de
Israel: Por que nos feriu o Senhor hoje diante dos filisteus? Tragamos
para nós de Siló a arca do pacto do Senhor, para que ela
venha para o meio de nós, e nos livre da mão de nossos
inimigos.
4 Enviou, pois, o povo a Siló, e trouxeram de lá a arca
do pacto do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os
querubins; e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, estavam ali com a
arca do pacto de Deus.
A arca é tomada.
Hofni e Fineias são mortos
5 Quando a arca do pacto do Senhor chegou ao arraial, prorrompeu todo o Israel em grandes gritos, de modo que a terra vibrou.
6 E os filisteus, ouvindo o som da gritaria, disseram: Que quer dizer
esta grande vozearia no arraial dos hebreus? Quando souberam que a arca
do Senhor havia chegado ao arraial,
7 os filisteus se atemorizaram; e diziam: Os deuses vieram ao arraial. Diziam mais: Ai de nós!
Porque nunca antes sucedeu tal coisa.
8 Ai de nós! Quem nos livrará da mão destes deuses
possantes? Estes são os deuses que feriram aos egípcios
com toda sorte de pragas no deserto.
9 Esforçai-vos, e portai-vos varonilmente, ó filisteus,
para que porventura não venhais a ser escravos dos hebreus, como
eles o foram vossos; portai-vos varonilmente e pelejai.
10 Então, pelejaram os filisteus, e Israel foi derrotado,
fugindo cada um para a sua tenda; e houve mui grande matança,
pois caíram de Israel trinta mil homens de infantaria.
11 Também foi tomada a arca de Deus, e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, foram mortos.
A morte de Eli
12 Então, um homem de Benjamim, correndo do
campo de batalha chegou no mesmo dia a Siló, com as vestes
rasgadas e terra sobre a cabeça.
13 Ao chegar ele, estava Eli sentado numa cadeira ao pé do
caminho vigiando, porquanto o seu coração estava tremendo
pela arca de Deus. E quando aquele homem chegou e anunciou isto na
cidade, a cidade toda prorrompeu em lamentações.
14 E Eli, ouvindo a voz do lamento, perguntou: Que quer dizer este
alvoroço? Então o homem, apressando-se, chegou e o
anunciou a Eli.
15 Ora, Eli tinha noventa e oito anos; e os seus olhos haviam cegado, de modo que já não podia ver.
16 E disse aquele homem a Eli: Estou vindo do campo de batalha, donde
fugi hoje mesmo. Perguntou Eli: Que foi que sucedeu, meu filho?
17 Então, respondeu o que trazia as novas, e disse: Israel fugiu
de diante dos filisteus, e houve grande matança entre o povo;
além disto, também teus dois filhos, Hofni e Fineias,
são mortos, e a arca de Deus é tomada.
18 Quando ele fez menção da arca de Deus, Eli caiu da
cadeira para trás, junto à porta, e quebrou-se-lhe o
pescoço, e morreu, porquanto era homem velho e pesado. Ele tinha
julgado a Israel quarenta anos.
19 E estando sua nora, a mulher de Fineias, grávida e
próxima ao parto, e ouvindo estas novas, de que a arca de Deus
era tomada, e de que seu sogro e seu marido eram mortos, encurvou-se e
deu à luz, porquanto as dores lhe sobrevieram.
20 E, na hora em que ia morrendo, disseram as mulheres que estavam com
ela: Não temas, pois tiveste um filho. Ela, porém,
não respondeu, nem deu atenção a isto.
21 E chamou ao menino de Icabô, dizendo: De Israel se foi a
glória! Porque fora tomada a arca de Deus, e por causa de seu
sogro e de seu marido.
22 E disse: De Israel se foi a glória, pois é tomada a arca de Deus.
A arca na casa de Dagom
5
Os filisteus, pois, tomaram a arca de Deus, e a levaram de Ebenézer a Asdode.
2 Então, os filisteus tomaram a arca de Deus e a introduziram na casa de Dagom, e a puseram junto a Dagom.
3 Levantando-se, porém, de madrugada no dia seguinte os de
Asdode, eis que Dagom estava caído com o rosto em terra diante
da arca do Senhor; e tomaram a Dagom, e tornaram a pô-lo no seu
lugar.
4 E, levantando-se eles de madrugada no dia seguinte, eis que Dagom
estava caído com o rosto em terra diante da arca do Senhor; e a
cabeça de Dagom e ambas as suas mãos estavam cortadas
sobre o limiar; somente o tronco ficou a Dagom.
5 Pelo que nem os sacerdotes de Dagom, nem nenhum de todos os que
entram na casa de Dagom, pisam o limiar de Dagom em Asdode, até
o dia de hoje.
6 Entretanto, a mão do Senhor se agravou sobre os de Asdode, e
os assolou, e os feriu com tumores, a Asdode e aos seus termos.
7 O que tendo visto os homens de Asdode, disseram: Não fique
conosco a arca do Deus de Israel, pois a sua mão é dura
sobre nós, e sobre Dagom, nosso deus.
8 Pelo que enviaram mensageiros e congregaram a si todos os chefes dos
filisteus, e disseram: Que faremos nós da arca do Deus de
Israel? Responderam: Seja levada para Gate. Assim, levaram para
lá a arca do Deus de Israel.
9 E desde que a levaram para lá, a mão do Senhor veio
contra aquela cidade, causando grande pânico; pois feriu aos
homens daquela cidade, desde o pequeno até o grande, e
nasceram-lhes tumores.
10 Então, enviaram a arca de Deus a Ecrom. Sucedeu, porém
que, vindo a arca de Deus a Ecrom, os de Ecrom exclamaram, dizendo:
Transportaram para nós a arca do Deus de Israel, para nos matar
a nós e ao nosso povo.
11 Enviaram, pois, mensageiros, e congregaram a todos os chefes dos
filisteus, e disseram: Enviai daqui a arca do Deus de Israel, e volte
ela para o seu lugar, para que não nos mate a nós e ao
nosso povo. Porque havia pânico mortal em toda a cidade, e a
mão de Deus muito se agravara sobre ela.
12 Pois os homens que não morriam eram feridos com tumores; de modo que o clamor da cidade subia até o céu.
Os filisteus enviam a arca para fora da sua terra
6
A arca do Senhor ficou na terra dos filisteus sete meses.
2 Então, os filisteus chamaram os sacerdotes e os adivinhadores
para dizer-lhes: Que faremos nós da arca do Senhor? Fazei-nos
saber como havemos de enviá-la para o seu lugar.
3 Responderam eles: Se enviardes a arca do Deus de Israel, não a
envieis vazia, porém sem falta enviareis a ele uma oferta pela
culpa; então, sereis curados, e se vos fará saber por que
a sua mão não se retira de vós.
4 Então, perguntaram: Qual é a oferta pela culpa que lhe
havemos de enviar? Eles responderam: Segundo o número dos chefes
dos filisteus, cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, porque a
praga é uma e a mesma sobre todos os vossos príncipes.
5 Fazei, pois, imagens dos vossos tumores e dos ratos que andam
destruindo a terra, e dai glória ao Deus de Israel; porventura aliviará o
peso da sua mão de sobre vós, e de sobre vosso deus, e de sobre vossa
terra.
6 Por que, pois, endureceríeis os vossos corações,
como os egípcios e Faraó endureceram os seus
corações? Porventura depois de os haver Deus castigado,
não deixaram ir o povo, e este não se foi?
7 Agora, pois, fazei um carro novo, tomai duas vacas que estejam
criando, sobre as quais não tenha vindo o jugo, atai-as ao carro
e levai os seus bezerros de após elas para casa.
8 Tomai a arca do Senhor, e ponde-a sobre o carro; também metei
num cofre, ao seu lado, as jóias de ouro que haveis de oferecer
ao Senhor como ofertas pela culpa; e assim a enviareis, para que se
vá.
9 Reparai: se ela subir pelo caminho do seu termo a Bete-Semes, foi ele
quem nos fez este grande mal; mas, se não, saberemos que
não foi a sua mão que nos feriu, e que isto nos sucedeu
por acaso.
A arca chega a Bete-Semes
10 Assim, pois, fizeram aqueles homens: tomaram duas vacas que criavam, ataram-nas ao carro, e encerraram os bezerros em casa;
11 também puseram a arca do Senhor sobre o carro, bem como o
cofre com os ratos de ouro e com as imagens dos seus tumores.
12 Então, as vacas foram caminhando diretamente pelo caminho de
Bete-Semes, seguindo a estrada, andando e berrando, sem se desviarem
nem para a direita nem para a esquerda; e os chefes dos filisteus foram
seguindo-as até o termo de Bete-Semes.
13 Ora, andavam os de Bete-Semes fazendo a sega do trigo no vale; e, levantando os olhos, viram a arca e, vendo-a, se alegraram.
14 Tendo chegado o carro ao campo de Josué, o bete-semita, parou
ali, onde havia uma grande pedra. Fenderam a madeira do carro, e
ofereceram as vacas ao Senhor em holocausto.
15 Nisso, os levitas desceram a arca do Senhor, como também o
cofre que estava junto a ela, em que se achavam as jóias de
ouro, e puseram-nos sobre aquela grande pedra; e no mesmo dia, os
homens de Bete-Semes ofereceram holocaustos e sacrifícios ao
Senhor.
16 E os cinco chefes dos filisteus, tendo visto aquilo, voltaram para Ecrom no mesmo dia.
17 Estes, pois, são os tumores de ouro que os filisteus enviaram
ao Senhor como oferta pela culpa: por Asdode um, por Gaza outro, por
Asquelom outro, por Gate outro, por Ecrom outro.
18 Como também os ratos de ouro, segundo o número de
todas as cidades dos filisteus, pertencentes aos cinco chefes, desde as
cidades fortificadas até as aldeias campestres. Disso é
testemunha a grande pedra sobre a qual puseram a arca do Senhor, pedra
que ainda está até o dia de hoje no campo de
Josué, o bete-semita.
A arca chega a Quiriate-Jearim
19 Ora, o Senhor feriu os homens de Bete-Semes,
porquanto olharam para dentro da arca do Senhor; feriu do povo
cinquenta mil e setenta homens; então, o povo se entristeceu,
porque o Senhor o ferira com tão grande morticínio.
20 Disseram os homens de Bete-Semes: Quem poderia subsistir perante o Senhor, este Deus santo?
E para quem subirá de nós?
21 Enviaram, pois, mensageiros aos habitantes de Quiriate-Jearim, para
lhes dizerem: Os filisteus remeteram a arca do Senhor; descei, e
fazei-a subir para vós.
7 Vieram, pois, os homens
de Quiriate-Jearim, tomaram a arca do Senhor e a levaram à casa
de Abinadabe, no outeiro; e consagraram a Eleazar, filho dele, para que
guardasse a arca do Senhor.
Exortação de Samuel ao arrependimento
2 E desde o dia em que a arca ficou em Queriate-Jearim
passou-se muito tempo, chegando até vinte anos; então,
toda a casa de Israel suspirou pelo Senhor.
3 Samuel, pois, falou a toda a casa de Israel, dizendo: Se de todo o
vosso coração voltais para o Senhor, lançai do
meio de vós os deuses estranhos e as astarotes, preparai o vosso
coração para com o Senhor, e servi a ele só; e ele
vos livrará da mão dos filisteus.
4 Os filhos de Israel, pois, lançaram do meio deles os baalins e as astarotes, e serviram ao Senhor.
Os filisteus são vencidos
5 Disse mais Samuel: Congregai a todo o Israel em Mizpá, e orarei por vós ao Senhor.
6 Congregaram-se, pois, em Mizpá, tiraram água e a
derramaram perante o Senhor; jejuaram aquele dia, e ali disseram:
Pecamos contra o Senhor. E Samuel julgava os filhos de Israel em
Mizpá.
7 Quando os filisteus ouviram que os filhos de Israel estavam
congregados em Mizpá, subiram os chefes dos filisteus contra
Israel. Ao saberem disto os filhos de Israel, temeram por causa dos
filisteus.
8 Pelo que disseram a Samuel: Não cesses de clamar ao Senhor,
nosso Deus, por nós, para que nos livre da mão dos
filisteus.
9 Então, tomou Samuel um cordeiro de mama, e o ofereceu inteiro
em holocausto ao Senhor; e Samuel clamou ao Senhor por Israel, e o
Senhor o atendeu.
10 Enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus chegaram para
pelejar contra Israel; mas o Senhor trovejou naquele dia com grande
estrondo sobre os filisteus, e os aterrou; de modo que foram derrotados
diante dos filhos de Israel.
11 Os homens de Israel, saindo de Mizpá, perseguiram os filisteus e os feriram até abaixo de Bete-Car.
12 Então, Samuel tomou uma pedra, e a pôs entre
Mizpá e Sem, e lhe chamou Ebenézer; e disse: Até
aqui nos ajudou o Senhor.
13 Assim, os filisteus foram subjugados, e não mais vieram aos
termos de Israel, porquanto a mão do Senhor foi contra os
filisteus todos os dias de Samuel.
14 E as cidades que os filisteus tinham tomado a Israel lhe foram
restituídas, desde Ecrom até Gate, cujos termos
também Israel arrebatou da mão dos filisteus. E havia paz
entre Israel e os amorreus.
15 Samuel julgou a Israel todos os dias da sua vida.
16 De ano em ano rodeava por Betel, Gilgal e Mizpá, julgando a Israel em todos esses lugares.
17 Depois voltava a Ramá, onde estava a sua casa, e ali julgava a Israel; e edificou ali um altar ao Senhor.
Os israelitas pedem um rei
8
Ora, havendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel.
2 O seu filho primogênito chamava-se Joel, e o segundo Abias; e julgavam em Berseba.
3 Seus filhos, porém, não andaram nos caminhos dele, mas desviaram-se após o lucro e, recebendo
suborno, perverteram a justiça.
4 Então, todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram ter com Samuel, a Ramá,
5 e lhe disseram: Eis que já estás velho, e teus filhos
não andam nos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora, um rei
para nos julgar, como o têm todas as nações.
6 Mas pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos
um rei para nos julgar. Então, Samuel orou ao Senhor.
7 Disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem,
pois não é a ti que têm rejeitado, porém a
mim, para que eu não reine sobre eles.
8 Conforme todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do
Egito até o dia de hoje, deixando-me a mim e servindo a outros
deuses, assim também fazem a ti.
9 Agora, pois, ouve a sua voz, contudo lhes protestarás
solenemente, e lhes declararás qual será o modo de agir
do rei que houver de reinar sobre eles.
10 Referiu, pois, Samuel todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe havia pedido um rei,
11 e disse: Este será o modo de agir do rei que houver de reinar
sobre vós: tomará os vossos filhos, e os porá
sobre os seus carros, e para serem seus cavaleiros, e para correrem
adiante dos seus carros;
12 e os porá por chefes de mil e chefes de cinquenta, para
lavrarem os seus campos, fazerem as suas colheitas e fabricarem as suas
armas de guerra e os petrechos de seus carros.
13 Tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras.
14 Tomará o melhor das vossas terras, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e o dará aos seus servos.
15 Tomará o dízimo das vossas sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus servos.
16 Também os vossos servos e as vossas servas, e os vossos
melhores mancebos, e os vossos jumentos tomará, e os
empregará no seu trabalho.
17 Tomará o dízimo do vosso rebanho; e vós lhe servireis de escravos.
18 Então, naquele dia, clamareis por causa de vosso rei, que
vós mesmos houverdes escolhido; mas o Senhor não vos
ouvirá.
19 O povo, porém, não quis ouvir a voz de Samuel; e
disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei,
20 para que nós também sejamos como todas as outras
nações, e para que o nosso rei nos julgue, e saia adiante
de nós, e peleje as nossas batalhas.
21 Ouviu, pois, Samuel todas as palavras do povo, e as repetiu aos ouvidos do Senhor.
22 Disse o Senhor a Samuel: Dá ouvidos à sua voz, e
constitui-lhes rei. Então, Samuel disse aos homens de Israel:
Volte cada um para a sua cidade.
Saul busca as jumentas extraviadas e vai ter com
Samuel
9 Ora, havia um homem de Benjamim, cujo
nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho
de Afias, filho dum benjamita; era varão forte e valoroso.
2 Tinha este um filho, chamado Saul, jovem e tão belo que entre
os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele;
desde os ombros para cima sobressaía em altura a todo o povo.
3 Tinham-se perdido as jumentas de Quis, pai de Saul; pelo que disse
Quis a Saul, seu filho: Toma agora contigo um dos moços,
levanta-te e vai procurar as jumentas.
4 Passaram, pois, pela região montanhosa de Efraim, como
também pela terra de Salisa, mas não as acharam; depois
passaram pela terra de Saalim, porém tampouco estavam ali;
passando ainda pela terra de Benjamim, não as acharam.
5 Vindo eles, então, à terra de Zufe, Saul disse para o
moço que ia com ele: Vem! Voltemos, para que não suceda
que meu pai deixe de inquietar-se pelas jumentas e se aflija por causa
de nós.
6 Mas ele lhe disse: Eis que há nesta cidade um homem de Deus, e
ele é muito considerado; tudo quanto diz, sucede infalivelmente.
Vamos, pois, até lá; porventura nos mostrará o
caminho que devemos seguir.
7 Então, Saul disse ao seu moço: Porém se
lá formos, que levaremos ao homem? Pois o pão de nossos
alforjes se acabou, e presente nenhum temos para levar ao homem de
Deus; que temos?
8 O moço tornou a responder a Saul, e disse: Eis que ainda tenho
em mão um quarto dum siclo de prata, o qual darei ao homem de
Deus, para que nos mostre o caminho.
9 (Antigamente em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia
assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, outrora se
chamava vidente.)
10 Então, disse Saul ao moço: Dizes bem; vem, pois, vamos! E foram-se à cidade onde estava
o homem de Deus.
11 Quando eles iam subindo à cidade, encontraram umas
moças que saíam para tirar água; e
perguntaram-lhes: Está aqui o vidente?
12 Ao que elas lhes responderam: Sim, eis aí o tens diante de
ti; apressa-te, porque hoje veio à cidade, porquanto o povo tem
hoje sacrifício no alto.
13 Entrando vós na cidade, logo o achareis, antes que ele suba
ao alto para comer; pois o povo não comerá até que
ele venha, porque ele é o que abençoa a
sacrifício, e depois os convidados comem. Subi agora, porque a
esta hora o achareis.
14 Subiram, pois, à cidade; e, ao entrarem, eis que Samuel os encontrou, quando saía para subir ao alto.
15 Ora, o Senhor revelara isto aos ouvidos de Samuel, um dia antes de Saul chegar, dizendo:
16 Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de
Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de
Israel; e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus;
pois olhei para o meu povo, porque o seu clamor chegou a mim.
17 E quando Samuel viu a Saul, o Senhor o disse: Eis aqui o homem de quem eu te falei. Este dominará sobre o meu povo.
18 Então, Saul se chegou a Samuel na porta, e disse: Mostra-me, peço-te, onde é a casa do vidente.
19 Respondeu Samuel a Saul: Eu sou o vidente; sobe diante de mim ao
alto, porque comereis hoje comigo; pela manhã te despedirei, e
tudo quanto está no teu coração to declararei.
20 Também quanto às jumentas que há três dias se te perderam, não te
preocupes com elas, porque já foram achadas. E para quem está reservado
tudo o que é mais precioso em Israel? Porventura não é para ti, e para toda a casa de teu pai?
21 Então, respondeu Saul: Acaso não sou eu benjamita, da
menor das tribos de Israel? E não é a minha
família a menor de todas as famílias da tribo de
Benjamim? Por que, pois, me falas desta maneira?
22 Samuel, porém, tomando a Saul e ao seu moço, levou-os
à câmara, e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados,
que eram cerca de trinta homens.
23 Depois, disse Samuel ao cozinheiro: Traze a porção que
te dei, da qual te disse: põe-na à parte contigo.
24 Levantou, pois, o cozinheiro a espádua, com o que havia nela,
e pô-la diante de Saul. E disse Samuel: Eis que o que foi
reservado está diante de ti. Come; porque te foi guardado para
esta ocasião, para que o comesses com os convidados. Assim,
comeu Saul naquele dia com Samuel.
25 Então, desceram do alto para a cidade, e falou Samuel com Saul, no eirado.
26 E se levantaram de madrugada, quase ao subir da alva, pois Samuel
chamou a Saul, que estava no eirado, dizendo: Levanta-te para eu te
despedir. Levantou-se, pois, Saul, e sairam ambos, ele e Samuel.
27 Quando desciam para a extremidade da cidade, Samuel disse a Saul:
Dize ao moço que passe adiante de nós (e ele passou); tu,
porém, espera aqui, e te farei ouvir a palavra de Deus.
Samuel unge a Saul rei de Israel
10 Então, Samuel tomou um vaso de
azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o beijou, e
disse: Porventura, não te ungiu o Senhor para ser
príncipe sobre a sua herança?
2 Quando te apartares hoje de mim, encontrarás dois homens junto
ao sepulcro de Raquel, no termo de Benjamim, em Zelza, os quais te
dirão: Acharam-se as jumentas que foste buscar, e eis que
já o teu pai deixou de pensar nas jumentas, e anda aflito por
causa de ti, dizendo: Que farei eu por meu filho?
3 Então, dali passarás mais adiante, e chegarás ao
carvalho de Tabor; ali te encontrarão três homens, que
vão subindo a Deus, a Betel, um levando três cabritos,
outro, três formas de pão, e o outro, um odre de vinho.
4 Eles te saudarão, e te darão dois pães, que receberás das mãos deles.
5 Depois, chegarás ao outeiro de Deus, onde está a
guarnição dos filisteus; ao entrares ali na cidade,
encontrarás um grupo de profetas descendo do alto, precedido de
saltérios, tambores, flautas e harpas, e eles profetizando.
6 E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e
profetizarás com eles, e serás transformado em outro
homem.
7 Quando estes sinais te vierem, faze o que achar a tua mão para fazer, pois Deus é contigo.
8 Tu, porém, descerás adiante de mim a Gilgal, e eis que
eu descerei a ter contigo, para oferecer holocaustos e
sacrifícios de ofertas pacíficas. Esperarás sete
dias, até que eu vá ter contigo e te declare o que
hás de fazer.
Saul entre os profetas
9 Ao virar Saul as costas para se apartar de Samuel,
Deus lhe mudou o coração em outro; e todos esses sinais
aconteceram naquele mesmo dia.
10 Quando eles iam chegando ao outeiro, eis que um grupo de profetas
lhes saiu ao encontro; e o Espírito de Deus se apoderou de Saul,
e ele profetizou no meio deles.
11 Todos os que o tinham conhecido antes, ao verem que ele profetizava
com os profetas, diziam uns aos outros: Que é que sucedeu ao
filho de Quis? Está também Saul entre os profetas?
12 Então, um homem dali respondeu, e disse: Pois quem é o
pai deles? Pelo que se tornou em provérbio: Está
também Saul entre os profetas?
13 Tendo ele acabado de profetizar, foi ao alto.
14 Depois, o tio de Saul perguntou-lhe, a ele e ao seu moço:
Aonde fostes? Respondeu ele: Procurar as jumentas; e, não as
tendo encontrado, fomos ter com Samuel.
15 Disse mais o tio de Saul: Declara-me, peço-te, o que vos disse Samuel.
16 Ao que respondeu Saul a seu tio: Declarou-nos, seguramente, que as
jumentas tinham sido encontradas. Mas quanto ao assunto do reino, de
que Samuel falara, nada lhe declarou.
Saul escolhido rei
17 Então, Samuel convocou o povo ao Senhor em Mizpá;
18 e disse aos filhos de Israel: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Eu
fiz subir a Israel do Egito, e vos livrei da mão dos
egípcios e da mão de todos os reinos que vos oprimiam.
19 Mas vós hoje rejeitastes a vosso Deus, àquele que vos
livrou de todos os vossos males e angústias, e lhe dissestes:
Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o
Senhor, segundo as vossas tribos e segundo os vossos milhares.
20 Tendo, pois, Samuel feito chegar todas as tribos de Israel, foi tomada por sorte a tribo de Benjamim.
21 E, quando fez chegar a tribo de Benjamim segundo as suas
famílias, foi tomada a família de Matri, e dela foi
tomado Saul, filho de Quis; e o procuraram, mas não foi
encontrado.
22 Pelo que tornaram a perguntar ao Senhor: Não veio o homem ainda para
cá? E respondeu o Senhor: Eis que se escondeu por entre a bagagem.
23 Correram, pois, e o trouxeram dali; e estando ele no meio do povo,
sobressaía em altura a todo o povo desde os ombros para cima.
24 Então, disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o
Senhor escolheu: Não há entre o povo nenhum semelhante a
ele. Então, todo o povo o aclamou, dizendo: Viva o rei.
25 Também declarou Samuel ao povo a lei do reino, e a escreveu
num livro, e pô-lo perante o Senhor. Então, Samuel
despediu todo o povo, cada um para sua casa.
26 E foi também Saul para sua casa em Gibeá; e foram com
ele homens de valor, aqueles cujo coração Deus tocara.
27 Mas alguns homens ímpios disseram: Como pode este homem nos
livrar? E o desprezaram, e não lhe trouxeram presentes;
porém, ele se fez como surdo.
Saul vence os amonitas
11 Então, subiu Naás, o
amonita, e sitiou a Jabes-Gileade. E disseram todos os homens de Jabes
a Naás: Faze aliança conosco, e te serviremos.
2 Respondeu-lhes, porém, Naás, o amonita: Com esta
condição farei aliança convosco: que a todos vos
arranque o olho direito; assim, porei opróbrio sobre todo o
Israel.
3 Ao que os anciãos de Jabes lhe disseram: Concede-nos sete
dias, para que enviemos mensageiros por todo o território de
Israel; e, não havendo ninguém que nos livre, nos
entregaremos a ti.
4 Então, vindo os mensageiros a Gibeá de Saul, falaram
estas palavras aos ouvidos do povo. Pelo que todo o povo levantou a voz
e chorou.
5 E eis que Saul vinha do campo, atrás dos bois; e disse Saul:
Que tem o povo, que chora? E contaram-lhe as palavras dos homens de
Jabes.
6 Então, o Espírito de Deus se apoderou de Saul, ao ouvir ele estas palavras; e acendeu-se sobremaneira a sua ira.
7 Tomou ele uma junta de bois, cortou-os em pedaços, e os enviou
por todo o território de Israel por mãos de mensageiros,
dizendo: Qualquer que não sair após Saul e após
Samuel, assim se fará aos seus bois. Então, caiu o temor
do Senhor sobre o povo, e acudiram como um só homem.
8 Saul passou-lhes revista em Bezeque; e havia dos homens de Israel trezentos mil, e dos homens de Judá, trinta mil.
9 Então, disseram aos mensageiros que tinham vindo: Assim direis
aos homens de Jabes-Gileade: Amanhã, em aquentando o sol, vos
virá livramento. Vindo, pois, os mensageiros, anunciaram-no aos
homens de Jabes, os quais se alegraram.
10 E os homens de Jabes disseram aos amonitas: Amanhã nos
entregaremos a vós; então, nos fareis conforme tudo o que
bem vos parecer.
11 Ao outro dia, Saul dividiu o povo em três companhias; e pela
vigília da manhã vieram ao meio do arraial, e feriram aos
amonitas até que o dia aquentou; e sucedeu que os restantes se
espalharam, de modo a não ficarem dois juntos.
Saul proclamado rei
12 Então, disse o povo a Samuel: Quais
são os que diziam: Reinará porventura Saul sobre
nós? Dai cá esses homens, para que os matemos.
13 Saul, porém, disse: Hoje não se há de matar ninguém; porque, neste dia, o
Senhor operou um livramento em Israel.
14 Depois, disse Samuel ao povo: Vinde, vamos a Gilgal, e renovemos ali o reino.
15 Foram, pois, para Gilgal, onde constituíram rei a Saul
perante o Senhor, e imolaram sacrifícios de ofertas
pacíficas perante o Senhor; e ali Saul se alegrou muito com
todos os homens de Israel.
Samuel resigna o seu cargo
12 Então, disse Samuel a todo o
Israel: Eis que vos dei ouvidos em tudo quanto me dissestes, e
constituí sobre vós um rei.
2 Agora, eis que o rei vai adiante de vós; quanto a mim,
já sou velho e encanecido, e meus filhos estão convosco;
eu tenho andado adiante de vós desde a minha mocidade até
o dia de hoje.
3 Eis-me aqui! Testificai contra mim perante o Senhor, e perante o seu ungido. De quem tomei o boi?
Ou de quem tomei o jumento? Ou a quem defraudei? Ou a quem tenho oprimido?
Ou da mão de quem tenho recebido suborno para encobrir com ele os meus olhos? E eu vo-lo restituirei.
4 Responderam eles: Em nada nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém.
5 Ele lhes disse: O Senhor é testemunha contra vós, e o
seu ungido é hoje testemunha de que nada tendes achado na minha
mão. Ao que respondeu o povo: Ele é testemunha.
6 Então, disse Samuel ao povo: O Senhor é o que escolheu
a Moisés e a Arão, e tirou a vossos pais da terra do
Egito.
7 Agora, ponde-vos aqui, para que eu pleiteie convosco perante o
Senhor, no tocante a todos os atos de justiça do Senhor, que ele
fez a vós e a vossos pais.
8 Quando Jacó entrou no Egito, e vossos pais clamaram ao Senhor,
então, o Senhor enviou Moisés e Arão, que tiraram
vossos pais do Egito, e os fizeram habitar neste lugar.
9 Esqueceram-se, porém, do Senhor, seu Deus; e ele os entregou
na mão de Sísera, chefe do exército de Hazor, e na
mão dos filisteus, e na mão do rei de Moabe, os quais
pelejaram contra eles.
10 Clamaram, pois, ao Senhor, e disseram: Pecamos, porque deixamos ao
Senhor, e servimos aos baalins e astarotes; agora, porém, livra-nos da mão
de nossos inimigos, e te serviremos.
11 Então, o Senhor enviou Jerubaal, e Baraque, e Jefté, e
Samuel; e vos livrou da mão de vossos inimigos em redor, e
habitastes em segurança.
12 Quando vistes que Naás, rei dos filhos de Amom, vinha contra
vós, dissestes-me: Não, mas reinará sobre
nós um rei; entretanto, o Senhor, vosso Deus, era o vosso Rei.
13 Agora, eis o rei que escolhestes e que pedistes; eis que o Senhor tem posto sobre vós um rei.
14 Se temerdes ao Senhor, e o servirdes, e derdes ouvidos à sua
voz, e não fordes rebeldes às suas ordens, e se tanto
vós como o rei que reina sobre vós seguirdes o Senhor,
vosso Deus, bem está;
15 mas se não derdes ouvidos à voz do Senhor, e fordes
rebeldes às suas ordens, a mão do Senhor será
contra vós, como foi contra vossos pais.
16 Portanto, ficai agora aqui, e vede esta grande coisa que o Senhor vai fazer diante dos vossos olhos.
17 Não é hoje a sega do trigo? Clamarei, pois, ao Senhor,
para que ele envie trovões e chuva; e sabereis e vereis que
é grande a vossa maldade, que fizestes perante o Senhor, pedindo
para vós um rei.
18 Então, invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor enviou naquele
dia trovões e chuva; pelo que todo o povo temeu sobremaneira ao
Senhor e a Samuel.
19 Disse todo o povo a Samuel: Roga pelos teus servos ao Senhor, teu
Deus, para que não morramos; porque a todos os nossos pecados
temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei.
20 Então, disse Samuel ao povo: Não temais; vós
fizestes todo este mal; porém não vos desvieis de seguir
ao Senhor, mas servi-o de todo o vosso coração.
21 Não vos desvieis; porquanto seguiríeis coisas
vãs, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão, porque
são vãs.
22 Pois o Senhor, por causa do seu grande nome, não
desamparará o seu povo; porque aprouve ao Senhor fazer de
vós o seu povo.
23 E quanto a mim, longe de mim esteja o pecar contra o Senhor,
deixando de orar por vós; eu vos ensinarei o caminho bom e
direito.
24 Tão-somente temei ao Senhor, e servi-o fielmente de todo o
vosso coração; pois vede quão grandiosas coisas
vos fez.
25 Se, porém, perseverardes em fazer o mal, perecereis, assim vós como o vosso rei.
Guerra entre os israelitas e os filisteus
13
Um ano reinara Saul em Israel. No segundo ano de seu reinado sobre seu povo,
2 escolheu para si três mil homens de Israel; dois mil estavam
com Saul em Micmás e no monte de Betel, e mil estavam com
Jônatas em Gibeá de Benjamim. Quanto ao resto do povo,
mandou-o cada um para sua tenda.
3 Ora, Jônatas feriu a guarnição dos filisteus que
estava em Geba, o que os filisteus ouviram; pelo que Saul tocou a
trombeta por toda a terra, dizendo: Ouçam os hebreus.
4 Então, todo o Israel ouviu dizer que Saul ferira a
guarnição dos filisteus, e que Israel se fizera
abominável aos filisteus. E o povo foi convocado após
Saul em Gilgal.
5 E os filisteus se ajuntaram para pelejar contra Israel, com trinta
mil carros, seis mil cavaleiros, e povo em multidão como a areia
que está à beira do mar subiram e se acamparam em
Micmás, ao oriente de Bete-Aven.
6 Vendo, pois, os homens de Israel que estavam em aperto (porque o povo
se achava angustiado), esconderam-se nas cavernas, nos espinhais, nos
penhascos, nos esconderijos subterrâneos e nas cisternas.
7 Ora, alguns dos hebreus passaram o Jordão para a terra de Gade
e Gileade; mas Saul ficou ainda em Gilgal, e todo o povo o seguia
tremendo.
Saul oferece sacrifícios e é reprovado por Samuel
8 Esperou, pois, sete dias, até o tempo que
Samuel determinara; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o
povo, deixando a Saul, se dispersava.
9 Então, disse Saul: Trazei-me aqui um holocausto, e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto.
10 Mal tinha ele acabado de oferecer o holocausto, eis que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, para o saudar.
11 Então, perguntou Samuel: Que fizeste? Respondeu Saul:
Porquanto via que o povo, deixando-me, se dispersava, e que tu
não vinhas no tempo determinado, e que os filisteus já se
tinham ajuntado em Micmás,
12 eu disse: Agora descerão os filisteus sobre mim a Gilgal, e
ainda não aplaquei o Senhor. Assim, me constrangi e ofereci o
holocausto.
13 Então, disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente;
não guardaste o mandamento que o Senhor, teu Deus, te ordenou. O
Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre;
14 agora, porém, não subsistirá o teu reino;
já tem o Senhor buscado para si um homem segundo o seu
coração, e já o tem destinado para ser
príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que
o Senhor te ordenou.
15 Então, Samuel se levantou, e subiu de Gilgal a Gibeá
de Benjamim. Saul contou o povo que se achava com ele, cerca de
seiscentos homens.
16 E Saul, seu filho Jônatas e o povo que se achava com eles,
ficaram em Gibeá de Benjamim, mas os filisteus se tinham
acampado em Micmás.
17 Os saqueadores saíram do arraial dos filisteus em três
companhias: uma das companhias tomou o caminho de Ofra para a terra de
Sual,
18 outra tomou o caminho de Bete-Horom, e a outra tomou o caminho do
termo que dá para o vale de Zebuim, na direção do
deserto.
19 Ora, em toda a terra de Israel não se achava um só
ferreiro; porque os filisteus tinham dito: Não façam os
hebreus para si nem espada nem lança.
20 Pelo que todos os israelitas tinham que descer aos filisteus para
afiar cada um a sua relha, a sua enxada, o seu machado e o seu sacho.
21 Tinham, porém, limas para os sachos, para as enxadas, para as
forquilhas e para os machados, e para consertar as aguilhadas.
22 Assim, no dia da peleja, não se achou nem espada nem
lança na mão de todo o povo que estava com Saul e com
Jônatas; acharam-se, porém, com Saul e com Jônatas,
seu filho.
23 E saiu a guarnição dos filisteus para o desfiladeiro de Micmás.
A vitória de Jônatas sobre os filisteus
14 Sucedeu, pois, um dia, que
Jônatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: Vem, passemos
à guarnição dos filisteus, que está do
outro lado. Mas não o fez saber a seu pai.
2 Ora, Saul estava na extremidade de Gibeá, debaixo da romeira
que havia em Migrom; e o povo que estava com ele era cerca de
seiscentos homens;
3 e Aíja, filho de Aitube, irmão de Icabô, filho de
Fineias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló, trazia o
éfode. E o povo não sabia que Jônatas tinha ido.
4 Ora, entre os desfiladeiros pelos quais Jônatas procurava
chegar à guarnição dos filisteus, havia um
penhasco de um e de outro lado; o nome de um era Bozez, e o nome do
outro Sené.
5 Um deles estava para o norte, defronte de Micmás, e o outro para o sul, defronte de Gibeá.
6 Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à
guarnição destes incircuncisos; porventura operará
o Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento
há de livrar com muitos ou com poucos.
7 Ao que o seu escudeiro lhe respondeu: Faze tudo o que te aprouver;
eis-me aqui, a tua disposição será a minha.
8 Disse Jônatas: Eis que passaremos àqueles homens, e nos descobriremos a eles.
9 Se nos disserem: Parai até que cheguemos a vós;
então, ficaremos no nosso lugar, e não subiremos a eles.
10 Se, porém, disserem: Subi a nós; então
subiremos, pois o Senhor os entregou em nossas mãos; isso nos
será por sinal.
11 Então, ambos se descobriram à guarnição
dos filisteus, e os filisteus disseram: Eis que já os hebreus
estão saindo das cavernas em que se tinham escondido.
12 E os homens da guarnição disseram a Jônatas e ao
seu escudeiro: Subi a nós, e vos ensinaremos uma coisa. Disse,
pois, Jônatas ao seu escudeiro: Sobe atrás de mim, porque
o Senhor os entregou na mão de Israel.
13 Então, trepou Jônatas de gatinhas, e o seu escudeiro
atrás dele; e os filisteus caíam diante de Jônatas,
e o seu escudeiro os matava atrás dele.
14 Esta primeira derrota, em que Jônatas e o seu escudeiro mataram uns vinte homens, deu-se dentro de meia jeira de terra.
15 Pelo que houve tremor no arraial, no campo e em todo o povo;
também a própria guarnição e os saqueadores
tremeram; e até a terra estremeceu; de modo que houve grande
pânico.
16 Olharam, pois, as sentinelas de Saul e Gibeá de Benjamim, e
eis que a multidão se derretia, fugindo para cá e para
lá.
17 Disse, então, Saul ao povo que estava com ele: Ora, contai e
vede quem é que saiu dentre nós. E contaram, e eis que
nem Jônatas nem o seu escudeiro estava ali.
18 Então, Saul disse a Aíja: Traze aqui a arca de Deus.
Pois naquele dia, estava a arca de Deus com os filhos de Israel.
19 E sucedeu que, estando Saul ainda falando com o sacerdote, o
alvoroço que havia no arraial dos filisteus ia crescendo muito;
pelo que disse Saul ao sacerdote: Retira a tua mão.
20 Então, Saul e todo o povo que estava com ele se reuniram e
foram à peleja; e eis que dentre os filisteus a espada de um era
contra o outro, e houve mui grande derrota.
21 Os hebreus que estavam dantes com os filisteus, e tinham subido com
eles ao arraial, também se ajuntaram aos israelitas que estavam
com Saul e Jônatas.
22 E todos os homens de Israel que se haviam escondido na região
montanhosa de Efraim, ouvindo que os filisteus fugiam, também os
perseguiram de perto na peleja.
23 Assim, o Senhor livrou a Israel naquele dia, e a batalha passou além de Bete-Aven.
O voto de Saul
24 Ora, os homens de Israel estavam já exaustos
naquele dia, porquanto Saul conjurara o povo, dizendo: Maldito o homem
que comer pão antes da tarde, antes que eu me vingue de meus
inimigos. Pelo que todo o povo se absteve de comer.
25 Mas todo o povo chegou a um bosque, onde havia mel à flor da terra.
26 Chegando, pois, o povo ao bosque, viu correr o mel; todavia,
ninguém chegou a mão à boca, porque o povo temia a
conjuração.
27 Jônatas, porém, não tinha ouvido quando seu pai
conjurara o povo; pelo que estendeu a ponta da vara que tinha na
mão, e a molhou no favo de mel; e, ao chegar a mão
à boca, aclararam-se-lhe os olhos.
28 Então, disse um do povo: Teu pai solenemente conjurou o povo,
dizendo: Maldito o homem que comer pão hoje. E o povo ainda
desfalecia.
29 Pelo que disse Jônatas: Meu pai tem turbado a terra; ora, vede
como se me aclararam os olhos por ter provado um pouco deste mel.
30 Quanto maior não teria sido a derrota dos filisteus se o povo
hoje tivesse comido livremente do despojo, que achou de seus inimigos?
31 Feriram, contudo, naquele dia aos filisteus, desde Micmás até Aijalom. E o povo desfaleceu em extremo;
32 então, o povo se lançou ao despojo, e tomou ovelhas,
bois e bezerros e, degolando-os no chão, comeu-os com o sangue.
33 E o anunciaram a Saul, dizendo: Eis que o povo está pecando
contra o Senhor, comendo carne com o sangue. Respondeu Saul:
Procedestes deslealmente. Trazei-me aqui já uma grande pedra.
34 Disse mais Saul: Dispersai-vos entre e povo, e dizei-lhes: Trazei-me
aqui cada um o seu boi, e cada um a sua ovelha e degolai-os aqui, e
comei; e não pequeis contra e Senhor, comendo com sangue.
Então, todo o povo trouxe de noite, cada um o seu boi, e os
degolaram ali.
35 Então, edificou Saul um altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que ele edificou ao Senhor.
Jônatas salvo pelo povo
36 Depois, disse Saul: Desçamos de noite
atrás dos filisteus, e despojemo-los, até e amanhecer, e
não deixemos deles um só homem. E o povo disse: Faze tudo
o que parecer bem aos teus olhos. Disse, porém, o sacerdote:
Cheguemo-nos aqui a Deus.
37 Então, consultou Saul a Deus, dizendo: Descerei atrás
dos filisteus? Entregá-los-ás na mão de Israel?
Deus, porém, não lhe respondeu naquele dia.
38 Disse, pois, Saul: Chegai-vos para cá, todos os chefes do
povo; informai-vos, e vede em que se cometeu hoje este pecado;
39 porque, como vive o Senhor que salva a Israel, ainda que seja em meu
filho Jônatas, ele será morto. Mas de todo o povo
ninguém lhe respondeu.
40 Disse mais a todo o Israel: Vós estareis dum lado, e eu e meu
filho Jônatas estaremos do outro. Então, disse o povo a
Saul: Faze o que parecer bem aos teus olhos.
41 Falou, pois, Saul ao Senhor, Deus de Israel: Mostra o que é
justo. E Jônatas e Saul foram tomados por sorte, e o povo saiu
livre.
42 Então, disse Saul: Lançai a sorte entre mim e Jônatas, meu filho. E foi tomado Jônatas.
43 Disse, então, Saul a Jônatas: Declara-me o que fizeste.
E Jônatas lho declarou, dizendo: Provei, na verdade, um pouco de
mel com a ponta da vara que tinha na mão; eis-me pronto a morrer.
44 Ao que disse Saul: Assim me faça Deus, e outro tanto, se tu, certamente, não morreres, Jônatas.
45 Mas o povo disse a Saul: Morrerá, porventura, Jônatas,
que operou esta grande salvação em Israel? Tal não
suceda! Como vive o Senhor, não lhe há de cair no
chão um só cabelo da sua cabeça! Pois com Deus fez
isso hoje. Assim, o povo livrou Jônatas, para que não
morresse.
46 Então, Saul deixou de perseguir os filisteus, e estes foram para o seu lugar.
47 Tendo Saul tomado o reino sobre Israel, pelejou contra todos os seus
inimigos em redor: contra Moabe, contra os filhos de Amom, contra Edom,
contra os reis de Zobá e contra os filisteus; e, para onde quer
que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se valorosamente, derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o saqueavam.
49 Ora, os filhos de Saul eram Jônatas, Isvi e Malquisua; os
nomes de suas duas filhas eram estes: o da mais velha Merabe, e o da
mais nova Mical.
50 O nome da mulher de Saul era Ainoã, filha de Aimaaz; e o nome
do chefe do seu exército, Abner, filho de Ner, tio de Saul.
51 Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel.
52 E houve forte guerra contra os filisteus, por todos os dias de Saul;
e sempre que Saul via algum homem poderoso e valente, o agregava a si.
A desobediência de Saul e a sua rejeição
15
Disse Samuel a Saul: Enviou-me o Senhor a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; ouve, pois, agora as palavras do Senhor.
2 Assim diz o Senhor dos exércitos: Castigarei a Amaleque por
aquilo que fez a Israel quando se lhe opôs no caminho, ao subir
ele do Egito.
3 Vai, pois, agora, fere a Amaleque, e o destrói totalmente e
tudo o que tiver; não o poupes, porém, matarás
homens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas,
camelos e jumentos.
4 Então, Saul convocou o povo, e os contou em Telaim, duzentos
mil homens de infantaria, e mais dez mil dos de Judá.
5 Chegando, pois, Saul à cidade de Amaleque, pôs uma emboscada no vale.
6 E disse Saul aos queneus: Ide, retirai-vos, saí do meio dos
amalequitas, para que eu não vos destrua juntamente com eles;
porque vós usastes de misericórdia com todos os filhos de
Israel, quando subiram do Egito. Retiraram-se, pois, os queneus do meio
dos amalequitas.
7 Depois, Saul feriu os amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito.
8 E tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas, porém a todo o povo destruiu ao fio da espada.
9 Mas Saul e o povo pouparam a Agague, como também ao melhor das
ovelhas, dos bois, e dos animais engordados, e aos cordeiros, e a tudo
o que era bom, e não os quiseram destruir totalmente;
porém a tudo o que era vil e desprezível
destruíram totalmente.
10 Então, veio a palavra do Senhor a Samuel, dizendo:
11 Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me
seguir, e não cumpriu as minhas palavras. Então, Samuel
se contristou, e clamou ao Senhor a noite toda.
12 E Samuel madrugou para encontrar-se com Saul pela manhã; e
foi dito a Samuel: Já chegou Saul ao Carmelo, e eis que levantou
para si numa coluna e, voltando, passou e desceu a Gilgal.
13 Veio, pois, Samuel ter com Saul, e Saul lhe disse: Bendito sejas do Senhor; já cumpri a palavra do Senhor.
14 Então, perguntou Samuel: Que quer dizer, pois, este balido de
ovelhas que chega aos meus ouvidos, e o mugido de bois que ouço?
15 Ao que respondeu Saul: De Amaleque os trouxeram, porque o povo
guardou o melhor das ovelhas e dos bois, para os oferecer ao Senhor,
teu Deus; o resto, porém, destruímo-lo totalmente.
16 Então, disse Samuel a Saul: Espera e te declararei o que o Senhor me disse esta noite. Respondeu-lhe Saul: Fala.
17 Prosseguiu, pois, Samuel: Embora pequeno aos teus próprios
olhos, porventura não foste feito o cabeça das tribos de
Israel? O Senhor te ungiu rei sobre Israel;
18 e bem assim te enviou o Senhor a este caminho, e disse: Vai, e
destrói totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja
contra eles, até que sejam aniquilados.
19 Por que, pois, não deste ouvidos à voz do Senhor,
antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que era mau aos olhos
do Senhor?
20 Então, respondeu Saul a Samuel: Pelo contrário, dei
ouvidos à voz do Senhor, e caminhei no caminho pelo qual o
Senhor me enviou, e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e aos amalequitas
destruí totalmente;
21 mas o povo tomou do despojo ovelhas e bois, o melhor do anátema, para o sacrificar ao Senhor, teu Deus, em Gilgal.
22 Samuel, porém, disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer
em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça
à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o
sacrificar, e o atender, do que a gordura de carneiros.
23 Porque a rebelião é como o pecado de
adivinhação, e a obstinação é como a
iniquidade de idolatria. Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele
também te rejeitou, a ti, para que não sejas rei.
24 Então, disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto transgredi a
ordem do Senhor e as tuas palavras; porque temi ao povo, e dei ouvidos
a sua voz.
25 Agora, pois, perdoa o meu pecado, e volta comigo, para que eu adore ao Senhor.
26 Samuel porém disse a Saul: Não voltarei contigo;
porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, e o Senhor te rejeitou a ti,
para que não sejas rei sobre Israel:
27 E, virando-se Samuel para se ir, Saul pegou-lhe pela orla da capa, a qual se rasgou.
28 Então, Samuel lhe disse: O Senhor rasgou de ti hoje o reino
de Israel, e o deu a um teu próximo, que é melhor do que
tu.
29 Também aquele que é a Força de Israel
não mente nem se arrepende, porquanto não é homem
para que se arrependa.
30 Ao que disse Saul: Pequei; honra-me, porém, agora diante dos
anciãos do meu povo, e diante de Israel, e volta comigo, para
que eu adore ao Senhor, teu Deus.
31 Então, voltando Samuel, seguiu a Saul, e Saul adorou ao Senhor.
Samuel mata a Agague
32 Então, disse Samuel: Trazei-me aqui a
Agague, rei dos amalequitas. E Agague veio a ele animosamente; e disse:
Certamente já passou a amargura da morte.
33 Disse, porém, Samuel: Assim como a tua espada desfilhou a
mulheres, assim ficará desfilhada tua mãe entre as
mulheres. E Samuel despedaçou a Agague perante o Senhor em
Gilgal.
34 Então, Samuel se foi a Ramá; e Saul subiu a sua casa, a Gibeá de Saul.
35 Ora, Samuel nunca mais viu a Saul até o dia da sua morte, mas
Samuel teve dó de Saul. E o Senhor se arrependeu de haver posto
a Saul rei sobre Israel.
Samuel enviado a Jessé
16 Então, disse o Senhor a Samuel:
Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu
rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de
azeite, e vem; enviar-te-ei a Jessé o belemita, porque dentre os
seus filhos me tenho provido de um rei.
2 Disse, porém, Samuel: Como irei eu? Pois Saul o ouvirá e me matará.
Então, disse o Senhor: Leva contigo uma bezerra, e dize: Vim para
oferecer sacrifício ao Senhor.
3 E convidarás a Jessé para o sacrifício, e eu te
farei saber o que hás de fazer; e ungir-me-ás a quem eu
te designar.
4 Fez, pois, Samuel o que dissera o Senhor, e veio a Belém; então, os anciãos da cidade
que lhe saíram ao encontro, tremendo, perguntaram: É de paz a tua vinda?
5 Respondeu ele: É de paz; vim oferecer sacrifício ao
Senhor. Santificai-vos, e vinde comigo ao sacrifício. E
santificou ele a Jessé e a seus filhos, e os convidou para o
sacrifício.
6 E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe, e disse: Certamente está perante o Senhor o seu ungido.
7 Mas o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua
aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque eu o
rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem,
pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém
o Senhor olha para o coração.
8 Depois, chamou Jessé a Abinadabe, e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este escolheu o Senhor.
9 Então, Jessé fez passar a Samá; Samuel, porém, disse: Tampouco a este escolheu o Senhor.
10 Assim, fez passar Jessé a sete de seus filhos diante de
Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não
escolheu a nenhum destes.
11 Disse mais Samuel a Jessé: São estes todos os teus
filhos? Respondeu Jessé: Ainda falta o menor, que está
apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda
trazê-lo, porquanto não nos sentaremos até que ele
venha aqui.
12 Jessé mandou buscá-lo e o fez entrar. Ora, ele era
ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto. Então, disse o
Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.
13 Então, Samuel tomou o vaso de azeite, e o ungiu no meio de
seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito do Senhor
se apoderou de Davi. Depois, Samuel se levantou e foi para Ramá.
Davi tange sua harpa perante Saul
14 Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor.
15 Então, os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno da parte de Deus te atormenta;
16 dize, pois, senhor nosso, a teus servos que estão na tua
presença, que busquem um homem que saiba tocar harpa; e quando o
espírito maligno da parte do Senhor vier sobre ti, ele
tocará com a sua mão, e te sentirás melhor.
17 Então, disse Saul aos seus servos: Buscai-me, pois, um homem que toque bem, e trazei-mo.
18 Respondeu um dos mancebos: Eis que tenho visto um filho de
Jessé, o belemita, que sabe tocar bem, e é forte e
destemido, homem de guerra, sisudo em palavras, e de gentil aspecto; e
o Senhor é com ele.
19 Pelo que Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está com as ovelhas.
20 Jessé, pois, tomou um jumento carregado de pão, e um
odre de vinho, e um cabrito, e os enviou a Saul pela mão de
Davi, seu filho.
21 Assim, Davi veio e se apresentou a Saul, que se agradou muito dele e o fez seu escudeiro.
22 Então, Saul mandou dizer a Jessé: Deixa ficar Davi ao
meu serviço, pois achou graça aos meus olhos.
23 E quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre
Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com a sua mão;
então, Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o
espírito maligno se retirava dele.
O desafio de Golias
17 Ora, os filisteus ajuntaram as suas
forças para a guerra e congregaram-se em Socó, que
pertence a Judá, e acamparam entre Socó e Azeca, em
Efes-Damim.
2 Saul, porém, e os homens de Israel, se ajuntaram e acamparam
no vale de Elá, e ordenaram a batalha contra os filisteus.
3 Os filisteus estavam num monte de um lado, e os israelitas estavam num monte do outro lado; e entre eles o vale.
4 Então, saiu do arraial dos filisteus um campeão, cujo
nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis côvados e um
palmo.
5 Trazia na cabeça um capacete de bronze, e vestia uma
couraça escameada, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze.
6 Também trazia grevas de bronze nas pernas, e um dardo de bronze entre os ombros.
7 A haste da sua lança era como o eixo do tecelão, e a
ponta da sua lança pesava seiscentos siclos de ferro; adiante
dele ia o seu escudeiro.
8 Ele, pois, de pé, clamava às fileiras de Israel e
dizia-lhes: Por que saístes a ordenar a batalha? Não sou
eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei dentre vós um
homem que desça a mim.
9 Se ele puder pelejar comigo e matar-me, seremos vossos servos;
porém, se eu prevalecer contra ele e o matar, então,
sereis nossos servos e nos servireis.
10 Disse mais o filisteu: Desafio hoje as fileiras de Israel; dai-me um homem, para que nós dois pelejemos.
11 Ouvindo, então, Saul e todo o Israel estas palavras do filisteu, desalentaram-se e temeram muito.
Davi enviado a seus irmãos
12 Ora, Davi era filho de um homem efrateu, de
Belém de Judá, cujo nome era Jessé, que tinha oito
filhos; e nos dias de Saul este homem era já velho e
avançado em idade entre os homens.
13 Os três filhos mais velhos de Jessé tinham seguido a
Saul à guerra; eram os nomes de seus três filhos que foram
à guerra: Eliabe, o primogênito, o segundo Abinadabe, e o
terceiro Samá.
14 Davi era o mais moço; os três maiores seguiram a Saul,
15 mas Davi ia e voltava de Saul, para apascentar as ovelhas de seu pai em Belém.
16 Chegava-se, pois, o filisteu pela manhã e à tarde; e apresentou-se por quarenta dias.
17 Disse, então, Jessé a Davi, seu filho: Toma agora para
teus irmãos um efa deste grão tostado e estes dez
pães, e corre a levá-los ao arraial, a teus irmãos.
18 Leva, também, estes dez queijos ao seu comandante de mil; e
verás como passam teus irmãos e trarás
notícias deles.
19 Ora, estavam Saul, e eles, e todos os homens de Israel no vale de Elá, pelejando contra os filisteus.
20 Davi, então, se levantou de madrugada e, deixando as ovelhas
com um guarda, carregou-se e partiu, como Jessé lhe ordenara; e
chegou ao arraial quando o exército estava saindo em ordem de
batalha e dava gritos de guerra.
21 Os israelitas e os filisteus se punham em ordem de batalha, fileira contra fileira.
22 E Davi, deixando na mão do guarda da bagagem a carga que
trouxera, correu às fileiras; e, chegando, perguntou a seus
irmãos se estavam bem.
23 Enquanto ainda falava com eles, eis que veio subindo do
exército dos filisteus o campeão, cujo nome era Golias, o
filisteu de Gate, e falou conforme aquelas palavras; e Davi as ouviu.
O gigante Golias insulta os israelitas
24 E todos os homens de Israel, vendo aquele homem, fugiam de diante dele, tomados de pavor.
25 Diziam os homens de Israel: Vistes aquele homem que subiu? Pois
subiu para desafiar a Israel. Ao homem, pois, que o matar, o rei
cumulará de grandes riquezas, e lhe dará a sua filha, e
fará livre a casa de seu pai em Israel.
26 Então, falou Davi aos homens que se achavam perto dele,
dizendo: Que se fará ao homem que matar a esse filisteu, e tirar
a afronta de sobre Israel? Pois quem é esse incircunciso
filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?
27 E o povo lhe repetiu aquela palavra, dizendo: Assim se fará ao homem que o matar.
28 Eliabe, seu irmão mais velho, ouviu-o quando falava
àqueles homens; pelo que se acendeu a sua ira contra Davi, e
disse: Por que desceste aqui, e a quem deixaste aquelas poucas ovelhas
no deserto? Eu conheço a tua presunção, e a
maldade do teu coração; pois desceste para ver a peleja.
29 Respondeu Davi: Que fiz eu agora? Porventura não há razão para isso?
30 E virou-se dele para outro, e repetiu as suas perguntas; e o povo lhe respondeu como da primeira vez.
Davi dispõe-se a pelejar contra o gigante
31 Então, ouvidas as palavras que Davi falara, foram elas referidas a Saul, que mandou chamá-lo.
32 E Davi disse a Saul: Não desfaleça o
coração de ninguém por causa dele; teu servo
irá, e pelejará contra este filisteu.
33 Saul, porém, disse a Davi: Não poderás ir
contra esse filisteu para pelejar com ele, pois tu ainda és
moço, e ele homem de guerra desde a sua mocidade.
34 Então, disse Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de
seu pai, e sempre que vinha um leão, ou um urso, e tomava um
cordeiro do rebanho,
35 eu saía após ele, e o matava, e lho arrancava da boca;
levantando-se ele contra mim, segurava-o pela queixada, e o feria e
matava.
36 O teu servo matava tanto ao leão como ao urso; e este
incircunciso filisteu será como um deles, porquanto afrontou os
exércitos do Deus vivo.
37 Disse mais Davi: O Senhor, que me livrou das garras do leão,
e das garras do urso, me livrará da mão deste filisteu.
Então, disse Saul a Davi: Vai, e o Senhor seja contigo.
38 E vestiu a Davi da sua própria armadura, pôs-lhe sobre
a cabeça um capacete de bronze, e o vestiu de uma couraça.
39 Davi cingiu a espada sobre a armadura e procurou em vão
andar, pois não estava acostumado àquilo. Então,
disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois não
estou acostumado. E Davi tirou aquilo de sobre si.
40 Então, tomou na mão o seu cajado, escolheu do ribeiro
cinco seixos lisos e pô-los no alforje de pastor que trazia, a
saber, no surrão, e, tomando na mão a sua funda, foi-se
chegando ao filisteu.
Davi encontra-se com o gigante e mata-o
41 O filisteu também vinha se aproximando de Davi, tendo a sua frente o seu escudeiro.
42 Quando o filisteu olhou e viu a Davi, desprezou-o, porquanto era mancebo, ruivo, e de gentil aspecto.
43 Disse o filisteu a Davi: Sou eu algum cão, para tu vires a
mim com paus? E o filisteu, pelos seus deuses, amaldiçoou a Davi.
44 Disse mais o filisteu a Davi: Vem a mim, e eu darei a tua carne às aves do céu e às bestas do campo.
45 Davi, porém, lhe respondeu: Tu vens a mim com espada, com
lança e com escudo; mas eu venho a ti em nome do Senhor dos
exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens
afrontado.
46 Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha mão;
ferir-te-ei, e tirar-te-ei a cabeça; os cadáveres do
arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves do céu e
às feras da terra; para que toda a terra saiba que há
Deus em Israel;
47 e para que toda esta assembleia saiba que o Senhor salva, não
com espada, nem com lança; pois do Senhor é a batalha, e
ele vos entregará em nossas mãos.
48 Quando o filisteu se levantou e veio chegando para se defrontar com
Davi, este se apressou e correu ao combate, a encontrar-se com o
filisteu.
49 E Davi, metendo a mão no alforje, tirou dali uma pedra e com
a funda lha atirou, ferindo o filisteu na testa; a pedra se lhe cravou
na testa, e ele caiu com o rosto em terra.
50 Assim, Davi prevaleceu contra o filisteu com uma funda e com uma
pedra; feriu-o e o matou; e não havia espada na mão de
Davi.
51 Correu, pois, Davi, pôs-se em pé sobre o filisteu e,
tomando a espada dele e tirando-a da bainha, o matou, decepando-lhe com
ela a cabeça. Vendo, então, os filisteus que o seu
campeão estava morto, fugiram.
52 Então, os homens de Israel e de Judá se levantaram
gritando, e perseguiram os filisteus até a entrada de Gate e
até as portas de Ecrom; e caíram os feridos dos filisteus
pelo caminho de Saraim até Gate e até Ecrom.
53 Depois, voltaram os filhos de Israel de perseguirem os filisteus, e despojaram os seus arraiais.
54 Davi tomou a cabeça do filisteu e a trouxe a Jerusalém; porém pôs as armas dele na sua tenda.
55 Quando Saul viu Davi sair e encontrar-se com o filisteu, perguntou a
Abner, o chefe do exército: De quem é filho esse jovem,
Abner? Respondeu Abner: Vive a tua alma, ó rei, que não
sei.
56 Disse, então, o rei: Pergunta, pois, de quem ele é filho.
57 Voltando, pois, Davi de ferir o filisteu, Abner o tomou consigo, e o
trouxe à presença de Saul, trazendo Davi na mão a
cabeça do filisteu.
58 E perguntou-lhe Saul: De quem és filho, jovem? Respondeu Davi: Filho de teu servo Jessé, belemita.
A amizade de Jônatas para com Davi
18 Ora, acabando Davi de falar com Saul, a
alma de Jônatas ligou-se com a alma de Davi; e Jônatas o
amou como à sua própria alma.
2 E desde aquele dia Saul o reteve, não lhe permitindo voltar para a casa de seu pai.
3 Então, Jônatas fez um pacto com Davi, porque o amava como à sua própria vida.
4 E Jônatas se despojou da capa que vestia, e a deu a Davi, como
também a sua armadura, e até mesmo a sua espada, o seu
arco e o seu cinto.
5 E saía Davi aonde quer que Saul o enviasse, e era sempre bem
sucedido; e Saul o pôs sobre a gente de guerra, e isso pareceu
bem aos olhos de todo o povo, e até aos olhos dos servos de Saul.
O cântico das mulheres indigna Saul
6 Sucedeu, porém, que, retornando eles, quando
Davi voltava de ferir o filisteu, as mulheres de todas as cidades de
Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando e
dançando alegremente, com tamboris, e com instrumentos de
música.
7 E as mulheres, dançando, cantavam umas para as outras,
dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez
milhares.
8 Então, Saul se indignou muito, pois aquela palavra pareceu mal
aos seus ouvidos, e disse: Dez milhares atribuíram a Davi, e a
mim somente milhares; que lhe falta, senão só o reino?
9 Daquele dia em diante, Saul trazia Davi sob suspeita.
10 No dia seguinte, um espírito maligno da parte de Deus se
apoderou de Saul, que começou a profetizar no meio da casa; e
Davi tocava a harpa, como nos outros dias. Saul tinha na mão uma
lança.
11 E Saul arremessou a lança, dizendo consigo: Encravarei a Davi
na parede. Davi, porém, desviou-se dele por duas vezes.
12 Saul, pois, temia a Davi, porque o Senhor era com Davi e se tinha retirado dele.
13 Pelo que Saul o afastou de si, e o fez comandante de mil; e ele saía e entrava diante do povo.
14 E Davi era bem sucedido em todos os seus caminhos; e o Senhor era com ele.
15 Vendo, então, Saul que ele era tão bem sucedido, tinha receio dele.
16 Mas todo o Israel e Judá amavam a Davi, porquanto saía e entrava diante deles.
Saul intenta matar a Davi pela astúcia
17 Pelo que Saul disse a Davi: Eis que Merabe, minha
filha mais velha, te darei por mulher, contanto que me sejas filho
valoroso, e guerreies as guerras do Senhor. Pois Saul dizia consigo:
Não seja contra ele a minha mão, mas sim a dos filisteus.
18 Mas Davi disse a Saul: Quem sou eu, e qual é a minha vida e a
família de meu pai em Israel, para eu vir a ser genro do rei?
19 Sucedeu, porém, que ao tempo em que Merabe, filha de Saul,
devia ser dada a Davi, foi dada por mulher a Adriel, meolatita.
Mical ama a Davi e casa com ele
20 Mas Mical, a outra filha de Saul, amava a Davi; sendo isto anunciado a Saul, pareceu bem aos seus olhos.
21 E Saul disse: Eu lha darei, para que ela lhe sirva de laço, e
para que a mão dos filisteus venha a ser contra ele. Pelo que
Saul disse a Davi: Com a outra serás hoje meu genro.
22 Saul, pois, deu ordem aos seus servos: Falai em segredo a Davi,
dizendo: Eis que o rei se agrada de ti, e todos os seus servos te
querem bem; agora, pois, consente em ser genro do rei.
23 Assim, os servos de Saul falaram todas estas palavras aos ouvidos de
Davi. Então, disse Davi: Parece-vos pouca coisa ser genro do
rei, sendo eu homem pobre e de condição humilde?
24 E os servos de Saul lhe anunciaram isto, dizendo: Assim e assim falou Davi.
25 Então, disse Saul: Assim direis a Davi: O rei não
deseja dote, senão cem prepúcios de filisteus, para que
seja vingado dos seus inimigos. Porquanto Saul tentava fazer Davi cair
pela mão dos filisteus.
26 Tendo os servos de Saul anunciado estas palavras a Davi, pareceu bem
aos seus olhos tornar-se genro do rei. Ora, ainda os dias não se
haviam cumprido,
27 quando Davi se levantou, partiu com os seus homens, e matou dentre
os filisteus duzentos homens; e Davi trouxe os prepúcios deles,
e os entregou, bem contados, ao rei, para que fosse seu genro.
Então, Saul lhe deu por mulher sua filha Mical.
28 Mas quando Saul viu e compreendeu que o Senhor era com Davi e que todo o Israel o amava,
29 temeu muito mais a Davi; e Saul se tornava cada vez mais seu inimigo.
30 Então, saíram os chefes dos filisteus à
campanha; e sempre que eles saíam, Davi era mais bem sucedido do
que todos os servos de Saul, pelo que o seu nome era mui estimado.
Jônatas intercede por Davi
19 Falou, pois, Saul a Jônatas, seu
filho, e a todos os seus servos, para que matassem a Davi. Porém
Jônatas, filho de Saul, estava muito afeiçoado a Davi.
2 Pelo que Jônatas o anunciou a Davi, dizendo: Saul, meu pai,
procura matar-te; portanto, guarda-te amanhã pela manhã,
fica num lugar oculto e esconde-te;
3 eu sairei e me porei ao lado de meu pai no campo em que estiveres;
falarei acerca de ti a meu pai, verei o que há, e to anunciarei.
4 Então, Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e
disse-lhe: Não peque o rei contra seu servo Davi, porque ele
não pecou contra ti, e porque os seus feitos para contigo
têm sido muito bons.
5 Porque expôs a sua vida e matou o filisteu, e o Senhor fez um
grande livramento para todo o Israel. Tu mesmo o viste, e te alegraste;
por que, pois, pecarias contra o sangue inocente, matando sem causa a
Davi?
6 E Saul deu ouvidos à voz de Jônatas, e jurou: Como vive o Senhor, Davi não morrerá.
7 Jônatas, pois, chamou a Davi, contou-lhe todas estas palavras, e o levou a Saul; e Davi o assistia como dantes.
Saul procura, de novo, matar a Davi
8 Depois, tornou a haver guerra; e saindo Davi,
pelejou contra os filisteus, e os feriu com grande matança, e
eles fugiram diante dele.
9 Então, o espírito maligno da parte do Senhor veio sobre
Saul, estando ele sentado em sua casa, e tendo na mão a sua
lança; e Davi estava tocando a harpa.
10 E Saul procurou encravar a Davi na parede, porém ele se
desviou de diante de Saul, que fincou a lança na parede.
Então, Davi fugiu e escapou naquela mesma noite.
11 Mas Saul mandou mensageiros à casa de Davi, para que o
vigiassem, e o matassem pela manhã; porém Mical, mulher
de Davi, o avisou, dizendo: Se não salvares a tua vida esta
noite, amanhã te matarão.
Mical engana a seu pai e salva a Davi
12 Então, Mical desceu Davi por uma janela, e ele se foi e, fugindo, escapou.
13 Mical tomou uma estátua, deitou-a na cama, pôs-lhe
à cabeceira uma pele de cabra, e a cobriu com uma capa.
14 Quando Saul enviou mensageiros para prenderem a Davi, ela disse: Está doente.
15 Tornou Saul a enviá-los, para que vissem a Davi, dizendo-lhes: Trazei-mo na cama, para que eu o mate.
16 Vindo, pois, os mensageiros, eis que estava a estátua na cama, e a pele de cabra à sua cabeceira.
17 Então, perguntou Saul a Mical: Por que assim me enganaste, e deixaste o meu
inimigo ir e escapar? Respondeu Mical a Saul: Porque ele me disse:
Deixa-me ir! Porque hei de matar-te.
Saul e seus mensageiros profetizam
18 Assim, Davi fugiu e escapou; e indo ter com Samuel,
em Ramá, contou-lhe tudo quanto Saul lhe fizera; foram, pois,
ele e Samuel, e ficaram em Naiote.
19 E foi dito a Saul: Eis que Davi está em Naiote, em Ramá.
20 Então, enviou Saul mensageiros para prenderem a Davi; quando
eles viram a congregação de profetas profetizando, e
Samuel a presidi-los, o Espírito de Deus veio sobre os
mensageiros de Saul, e também eles profetizaram.
21 Avisado disso, Saul enviou outros mensageiros, e também estes
profetizaram. Ainda terceira vez enviou Saul mensageiros, os quais
também profetizaram.
22 Então, foi ele mesmo a Ramá e, chegando ao poço
grande que estava em Seco, perguntou: Onde estão Samuel e Davi?
Responderam-lhe: Eis que estão em Naiote, em Ramá.
23 Foi, pois, para Naiote, em Ramá; e o Espírito de Deus
veio também sobre ele, e ele ia caminhando e profetizando,
até chegar a Naiote, em Ramá.
24 E despindo as suas vestes, ele também profetizou diante de
Samuel; e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite. Pelo
que se diz: Está também Saul entre os profetas?
A amizade entre Davi e Jônatas
20
Então, fugiu Davi de Naiote, em Ramá, veio ter com Jônatas e lhe disse: Que fiz eu?
Qual é a minha iniquidade? E qual é o meu pecado diante de teu pai, para que procure tirar-me a vida?
2 E ele lhe disse: Longe disso! Não hás de morrer. Meu
pai não faz coisa alguma, nem grande nem pequena, sem que
primeiro ma participe; por que, pois, meu pai me encobriria este
negócio? Não é verdade.
3 Respondeu-lhe Davi, com juramento: Teu pai bem sabe que achei
graça aos teus olhos; pelo que disse: Não saiba isto
Jônatas, para que não se magoe. Mas, na verdade, como vive
o Senhor, e como vive a tua alma, há apenas um passo entre mim e
a morte.
4 Disse Jônatas a Davi: O que desejas tu que eu te faça?
5 Respondeu Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a lua
nova, e eu deveria sentar-me com o rei para comer; porém,
deixa-me ir, e esconder-me-ei no campo até a tarde do terceiro
dia.
6 Se teu pai notar a minha ausência, dirás: Davi me pediu
muito que o deixasse ir correndo a Belém, sua cidade, porquanto
se faz lá o sacrifício anual para toda a parentela.
7 Se ele disser: Está bem; então, teu servo tem paz;
porém, se ele muito se indignar, fica sabendo que ele já
está resolvido a praticar o mal.
8 Usa, pois, de misericórdia para com o teu servo, porque o
fizeste entrar contigo em aliança do Senhor; se, porém,
há culpa em mim, mata-me tu mesmo; por que me levarias a teu pai?
9 Ao que respondeu Jônatas: Longe de ti tal coisa! Se eu soubesse
que meu pai estava resolvido a trazer o mal sobre ti, não to
descobriria eu?
10 Perguntou, pois, Davi a Jônatas: Quem me fará saber, se por acaso teu pai te responder asperamente?
11 Então, disse Jônatas a Davi: Vem, e saiamos ao campo. E saíram ambos ao campo.
Jônatas faz aliança com Davi
12 E disse Jônatas a Davi: O Senhor, Deus de
Israel, seja testemunha! Sondando eu a meu pai amanhã a estas
horas, ou depois de amanhã, se houver coisa favorável
para Davi, eu não enviarei a ti e não to farei saber?
13 O Senhor faça assim a Jônatas, e outro tanto, se,
querendo meu pai fazer-te mal, eu não te fizer saber, e
não te deixar partir, para ires em paz; e o Senhor seja contigo,
assim como foi com meu pai.
14 E não somente usarás para comigo, enquanto viver, da benevolência do Senhor, para que não morra,
15 como também não cortarás nunca da minha casa a
tua benevolência, nem ainda quando o Senhor tiver desarraigado da
terra a cada um dos inimigos de Davi.
16 Assim, fez Jônatas aliança com a casa de Davi, dizendo: O Senhor se vingue dos inimigos de Davi.
17 Então, Jônatas fez Davi jurar de novo, porquanto o amava; porque o amava com todo o amor da sua alma.
18 Disse-lhe ainda Jônatas: Amanhã é a lua nova, e
notar-se-á a tua ausência, pois o teu lugar estará
vazio.
19 Ao terceiro dia descerás apressadamente, e irás
àquele lugar onde te escondeste no dia do negócio, e te
sentarás junto à pedra de Ezel.
20 E eu atirarei três flechas para aquela banda, como se atirasse ao alvo.
21 Então, mandarei o moço dizendo: Anda, busca as
flechas. Se eu expressamente disser ao moço: Olha que as flechas
estão para cá de ti, apanha-as; então vem, porque,
como vive o Senhor, há paz para ti, e não há nada
a temer.
22 Mas se eu disser ao moço assim: Olha que as flechas
estão para lá de ti; vai-te embora, porque o Senhor te
manda ir.
23 E quanto ao negócio de que eu e tu falamos, o Senhor é testemunha entre mim e ti para sempre.
24 Escondeu-se, pois, Davi no campo; e, sendo a lua nova, sentou-se o rei para comer.
25 E, sentando-se o rei, como de costume, no seu assento junto à
parede, Jônatas sentou-se defronte dele, e Abner sentou-se ao
lado de Saul; e o lugar de Davi ficou vazio.
26 Entretanto, Saul não disse nada naquele dia, pois dizia
consigo: Aconteceu-lhe alguma coisa pela qual não está
limpo; certamente não está limpo.
27 Sucedeu também no dia seguinte, o segundo da lua nova, que o
lugar de Davi ficou vazio. Perguntou, pois, Saul a Jônatas, seu
filho: Por que o filho de Jessé não veio comer nem ontem
nem hoje?
28 Respondeu Jônatas a Saul: Davi pediu-me encarecidamente licença para ir a Belém,
29 dizendo: Peço-te que me deixes ir, porquanto a nossa
parentela tem um sacrifício na cidade, e meu irmão
ordenou que eu fosse; se, pois, agora tenho achado graça aos
teus olhos, peço-te que me deixes ir, para ver a meus
irmãos. Por isso não veio à mesa do rei.
Saul irado contra Jônatas
30 Então, se acendeu a ira de Saul contra
Jônatas, e ele lhe disse: Filho da perversa e rebelde! Não
sei eu que tens escolhido ao filho de Jessé para vergonha tua, e
para vergonha de tua mãe?
31 Pois, por todo o tempo em que o filho de Jessé viver sobre a
terra, nem tu estarás seguro, nem o teu reino; pelo que envia
agora, e traze-mo, porque ele há de morrer.
32 Ao que respondeu Jônatas a Saul, seu pai, e lhe disse: Por que há de morrer?
Que fez ele?
33 Então, Saul levantou a lança, para o ferir; assim,
entendeu Jônatas que seu pai tinha determinado matar a Davi.
34 Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se levantou da mesa, e no
segundo dia do mês não comeu; pois se magoava por causa de
Davi, porque seu pai o tinha ultrajado.
Jônatas despede-se de Davi
35 Jônatas, pois, saiu ao campo, pela manhã, ao tempo que tinha ajustado com Davi, levando consigo um rapazinho.
36 Então, disse ao moço: Corre a buscar as flechas que eu
atirar. Correu, pois, o moço; e Jônatas atirou uma flecha,
que fez passar além dele.
37 Quando o moço chegou ao lugar onde estava a flecha que
Jônatas atirara, gritou-lhe este, dizendo: Não está
porventura a flecha para lá de ti?
38 E tornou a gritar ao moço: Apressa-te, anda, não te
demores! E o servo de Jônatas apanhou as flechas, e as trouxe a
seu senhor.
39 O moço, porém, nada percebeu; só Jônatas e Davi sabiam do negócio.
40 Então, Jônatas deu as suas armas ao moço, e lhe disse: Vai, leva-as à cidade.
41 Logo que o moço se foi, levantou-se Davi da banda do sul, e
lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três
vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram ambos, mas Davi chorou
muito mais.
42 E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porquanto nós
temos jurado ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim
e ti, e entre a minha descendência e a tua descendência
perpetuamente.
43 Então, Davi se levantou e partiu; e Jônatas entrou na cidade.
Davi vai ter com o sacerdote Aimeleque
21 Então, veio Davi a Nobe, ao
sacerdote Aimeleque, o qual saiu, tremendo, ao seu encontro, e lhe
perguntou: Por que vens só, e ninguém contigo?
2 Respondeu Davi ao sacerdote Aimeleque: O rei me encomendou um
negócio, e me disse: Ninguém saiba deste negócio
pelo qual eu te enviei, e o qual te ordenei. Quanto aos mancebos,
apontei-lhes tal e tal lugar.
3 Agora, pois, que tens à mão? Dá-me cinco pães, ou o que se achar.
4 Ao que, respondendo o sacerdote a Davi, disse: Não tenho
pão comum à mão; há, porém,
pão sagrado, se ao menos os mancebos se têm abstido das
mulheres.
5 E respondeu Davi ao sacerdote, e lhe disse: Sim, em boa fé, as
mulheres se nos vedaram há três dias; quando eu
saí, os vasos dos mancebos também eram santos, embora
fosse para uma viagem comum; quanto mais ainda hoje não
serão santos os seus vasos?
6 Então, o sacerdote lhe deu o pão sagrado; porquanto
não havia ali outro pão senão os pães da
proposição, que se haviam tirado de diante do Senhor no
dia em que se tiravam para se pôr ali pão quente.
7 Ora, achava-se ali naquele dia um dos servos de Saul, detido perante
o Senhor; e era seu nome Doegue, edomeu, chefe dos pastores de Saul.
8 E disse Davi a Aimeleque: Não tens aqui à mão
uma lança ou uma espada? Porque eu não trouxe comigo nem
a minha espada nem as minhas armas, pois o negócio do rei era
urgente.
9 Respondeu o sacerdote: A espada de Golias, o filisteu, a quem tu
feriste no vale de Elá, está aqui envolta num pano,
detrás do éfode; se a queres tomar, toma-a, porque
não há outra aqui senão ela. E disse Davi:
Não há outra igual a essa; dá-ma.
Davi foge para Aquis, rei de Gate
10 Levantou-se, pois, Davi e fugiu naquele dia de diante de Saul, e foi ter com
Aquis, rei de Gate.
11 Mas os servos de Aquis lhe perguntaram: Este não é
Davi, o rei da terra? Não foi deste que cantavam nas
danças, dizendo: Saul matou os seus milhares, por Davi os seus
dez milhares?
12 E Davi considerou estas palavras no seu coração, e teve muito medo de Aquis, rei de Gate.
13 Pelo que se contrafez diante dos olhos deles, e fingiu-se doido nas
mãos deles, garatujando nas portas, e deixando correr a saliva
pela barba.
14 Então, disse Aquis aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim?
15 Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis a este para fazer doidices diante de mim?
Há de entrar este na minha casa?
Davi esconde-se em Adulão e em Moabe
22 Davi, retirando-se desse lugar, escapou
para a caverna de Adulão. Quando os seus irmãos e toda a
casa de seu pai souberam disso, desceram ali para ter com ele.
2 Ajuntaram-se a ele todos os que se achavam em aperto, todos os
endividados, e todos os amargurados de espírito; e ele se fez
chefe deles; havia com ele cerca de quatrocentos homens.
3 Dali passou Davi para Mizpe de Moabe; e disse ao rei de Moabe: Deixa,
peço-te, que meu pai e minha mãe fiquem convosco,
até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim.
4 E os deixou com o rei de Moabe; e ficaram com ele por todo o tempo que Davi esteve no lugar forte.
5 Disse o profeta Gade a Davi: Não fiques no lugar forte; sai, e
entra na terra de Judá. Então, Davi saiu e foi para o
bosque de Herete.
Saul mata todos os sacerdotes de Nobe
6 Ora, ouviu Saul que já havia notícias
de Davi e dos homens que estavam com ele. Estava Saul em Gibeá,
sentado debaixo da tamargueira, sobre o alto, e tinha na mão a
sua lança, e todos os seus servos estavam com ele.
7 Então, disse Saul a seus servos que estavam com ele: Ouvi,
agora, benjamitas! Acaso o filho de Jessé vos dará a
todos vós terras e vinhas, e far-vos-á a todos chefes de
milhares e chefes de centenas,
8 para que todos vós tenhais conspirado contra mim, e não
haja ninguém que me avise de ter meu filho feito aliança
com o filho de Jessé, e não haja ninguém dentre
vós que se doa de mim, e me participe o ter meu filho sublevado
meu servo contra mim, para me armar ciladas, como se vê neste dia?
9 Então, respondeu Doegue, o edomeu, que também estava
com os servos de Saul, e disse: Vi o filho de Jessé chegar a
Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube;
10 o qual consultou por ele ao Senhor, e lhe deu mantimento, e lhe deu também a espada de Golias, o filisteu.
11 Então, o rei mandou chamar a Aimeleque, o sacerdote, filho de
Aitube, e a toda a casa de seu pai, isto é, aos sacerdotes que
estavam em Nobe; e todos eles vieram ao rei.
12 E disse Saul: Ouve, filho de Aitube! E ele lhe disse: Eis-me aqui, senhor meu.
13 Então, lhe perguntou Saul: Por que conspirastes contra mim,
tu e o filho de Jessé, pois deste-lhe pão e espada, e
consultaste por ele a Deus, para que ele se levantasse contra mim a
armar-me ciladas, como se vê neste dia?
14 Ao que respondeu Aimeleque ao rei dizendo: Quem há, entre
todos os teus servos, tão fiel como Davi, o genro do rei, chefe
da tua guarda, e honrado na tua casa?
15 Porventura é de hoje que comecei a consultar por ele a Deus?
Longe de mim tal coisa! Não impute o rei coisa nenhuma a mim seu
servo, nem a toda a casa de meu pai, pois o teu servo não soube
nada de tudo isso, nem muito nem pouco.
16 O rei, porém, disse: Hás de morrer, Aimeleque, tu e toda a casa de teu pai.
17 E disse o rei aos da sua guarda que estavam com ele: Virai-vos, e
matai os sacerdotes do Senhor, porque também a mão deles
está com Davi, e porque sabiam que ele fugia e não mo
fizeram saber. Mas os servos do rei não quiseram estender as
suas mãos para arremeter contra os sacerdotes do Senhor.
18 Então, disse o rei a Doegue: Vira-te e arremete contra os
sacerdotes. Virou-se, então, Doegue, o edomeu, e arremeteu
contra os sacerdotes, e matou naquele dia oitenta e cinco homens que
vestiam éfode de linho.
19 Também a Nobe, cidade desses sacerdotes, passou a fio de
espada; homens e mulheres, meninos e criancinhas de peito, e até
os bois, jumentos e ovelhas passou a fio de espada.
Abiatar refugia-se com Davi
20 Todavia, um dos filhos de Aimeleque, filho de Aitube, que se chamava Abiatar, escapou e fugiu para Davi.
21 E Abiatar anunciou a Davi que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor.
22 Então, Davi disse a Abiatar: Bem sabia eu naquele dia que,
estando ali Doegue, o edomeu, não deixaria de o denunciar a
Saul. Eu sou a causa da morte de todos os da casa de teu pai.
23 Fica comigo, não temas; porque quem procura a minha morte
também procura a tua; comigo estarás em segurança.
Davi livra a Queila
23
Ora, foi anunciado a Davi: Eis que os filisteus pelejam contra Queila e saqueiam as eiras.
2 Pelo que consultou Davi ao Senhor, dizendo: Irei eu, e ferirei a
esses filisteus? Respondeu o Senhor a Davi: Vai, fere aos filisteus e
salva a Queila.
3 Mas os homens de Davi lhe disseram: Eis que tememos aqui em
Judá, quanto mais se formos a Queila, contra o exército
dos filisteus!
4 Davi, pois, tornou a consultar ao Senhor, e o Senhor lhe respondeu:
Levanta-te, desce a Queila, porque eu hei de entregar os filisteus na
tua mão.
5 Então, Davi partiu com os seus homens para Queila, pelejou
contra os filisteus, levou-lhes o gado, e fez grande matança
entre eles; assim, Davi salvou os moradores de Queila.
6 Ora, quando Abiatar, filho de Aimeleque, fugiu para Davi, a Queila, desceu com um éfode na mão.
7 Então, foi anunciado a Saul que Davi tinha ido a Queila; e
disse Saul: Deus o entregou nas minhas mãos; pois está
encerrado, porque entrou numa cidade que tem portas e ferrolhos.
8 E convocou todo o povo à peleja, para descerem a Queila, e cercar a Davi e os seus homens.
9 Sabendo, pois, Davi que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui o éfode.
10 E disse Davi: Ó Senhor, Deus de Israel, teu servo acaba de
ouvir que Saul procura vir a Queila, para destruir a cidade por causa
de mim.
11 Entregar-me-ão os cidadãos de Queila na mão
dele? Descerá Saul, como o teu servo tem ouvido? Ah, Senhor,
Deus de Israel, faze-o saber ao teu servo. Respondeu o Senhor:
Descerá.
12 Disse mais Davi: Entregar-me-ão os cidadãos de Queila,
a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul? E respondeu o Senhor:
Entregarão.
13 Levantou-se, então, Davi com os seus homens, cerca de seiscentos, e saíram de Queila, e
se foram sem rumo certo. Saul, quando lhe foi anunciado que Davi escapara de Queila, deixou de sair contra ele.
14 E Davi ficou no deserto, em lugares fortes, permanecendo na
região montanhosa no deserto de Zife. Saul o buscava todos os
dias, porém Deus não o entregou na sua mão.
Davi e Jônatas renovam a aliança
15 Vendo, pois, Davi que Saul saíra à busca da sua vida, esteve no deserto de Zife, em Hores.
16 Então, se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi ter com Davi em Hores, e lhe
fortaleceu a confiança em Deus;
17 e disse-lhe: Não temas; porque não te achará a
mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre
Israel, e eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu
pai, bem sabe.
18 E ambos fizeram aliança perante o Senhor; Davi ficou em Hores, e Jônatas, voltou para sua casa.
A traição dos zifeus
19 Então, subiram os zifeus a Saul, a
Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós,
nos lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que
está à mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o
desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas
mãos do rei.
21 Então, disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele
frequenta, e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é
muito astuto.
23 Pelo que atentai bem e informai-vos acerca de todos os esconderijos
em que ele se oculta; então, voltai para mim com notícias
exatas, e eu irei convosco. E há de ser que, se estiver naquela
terra, eu o buscarei entre todos os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de Saul; Davi,
porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina
ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo isso anunciado a
Davi, desceu ele à penha que está no deserto de Maom.
Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus homens da outra
banda. E Davi se apressava para escapar, por medo de Saul, porquanto
Saul e os seus homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os
prender.
27 Nisso, veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos
filisteus. Por esta razão, aquele lugar se chamou
Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de En-Gedi.
Davi poupa a vida de Saul
24
Ora, quando Saul voltou de perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi.
2 Então, tomou Saul três mil homens, escolhidos dentre
todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus homens, até
sobre as penhas das cabras montesas.
3 E chegou no caminho a uns currais de ovelhas, onde havia uma caverna;
e Saul entrou nela para aliviar o ventre. Ora, Davi e os seus homens
estavam sentados na parte interior da caverna.
4 Então, os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia do qual
o Senhor te disse: Eis que entrego o teu inimigo nas tuas mãos;
far-lhe-ás como parecer bem aos teus olhos. Então, Davi
se levantou e de mansinho cortou a orla do manto de Saul.
5 Sucedeu, porém, que depois doeu o coração de Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul.
6 E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal
coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, que eu estenda a minha
mão contra ele, pois é o ungido do Senhor.
7 Com essas palavras, Davi conteve os seus homens e não lhes
permitiu que se levantassem contra Saul. E Saul se levantou da caverna,
e prosseguiu o seu caminho.
8 Depois, também Davi se levantou e, saindo da caverna, gritou
por detrás de Saul, dizendo: Ó rei, meu senhor! Quando
Saul olhou para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra e
lhe fez reverência.
9 Então, disse Davi a Saul: por que dás ouvidos às
palavras dos homens que dizem: Davi procura fazer-te mal?
10 Eis que os teus olhos acabam de ver que o Senhor hoje te pôs
em minhas mãos nesta caverna; e alguns disseram que eu te
matasse, porém a minha mão te poupou; pois eu disse:
Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, porque
é o ungido do Senhor.
11 Olha, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha
mão, pois cortando-te eu a orla do manto, não te matei.
Considera e vê que não há na minha mão nem
mal nem transgressão alguma, e que não pequei contra ti,
ainda que tu andes à caça da minha vida para ma tirares.
12 Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; a minha
mão, porém, não será contra ti.
13 Como diz o provérbio dos antigos: Dos ímpios procede a
impiedade. A minha mão, porém, não será
contra ti.
14 Após quem saiu o rei de Israel? A quem persegues tu? A um cão morto? A uma
pulga?
15 Seja, pois, o Senhor juiz, e julgue entre mim e ti; e veja, e advogue a minha causa, e me livre da tua mão.
16 Acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, perguntou Saul:
É esta a tua voz, meu filho Davi? Então, Saul levantou a
voz e chorou.
17 E disse a Davi: Tu és mais justo do que eu, pois me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal.
18 E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, por isso que,
havendo-me o Senhor entregado na tua mão, não me mataste.
19 Pois, quem há que, encontrando o seu inimigo, o
deixará ir o seu caminho? O Senhor, pois, te pague com bem, pelo
que hoje me fizeste.
20 Agora, pois, sei que certamente hás de reinar, e que o reino de Israel há de se firmar na tua mão.
21 Portanto, jura-me pelo Senhor que não desarraigarás a
minha descendência depois de mim, nem extinguirás o meu
nome da casa de meu pai.
22 Então, jurou Davi a Saul. E foi Saul para sua casa, mas Davi e os seus homens subiram ao lugar forte.
A morte de Samuel
25 Ora, faleceu Samuel; e todo o Israel se
ajuntou e o pranteou; e o sepultaram na sua casa, em Ramá. E
Davi se levantou e desceu ao deserto de Parã.
Davi e Nabal
2 Havia um homem em Maom que tinha as suas
possessões no Carmelo. Este homem era muito rico, pois tinha
três mil ovelhas e mil cabras e estava tosquiando as suas ovelhas
no Carmelo.
3 Chamava-se o homem Nabal, e sua mulher chamava-se Abigail; era a
mulher sensata e formosa; o homem porém, era duro, e maligno nas
suas ações; e era da casa de Calebe.
4 Ouviu Davi no deserto que Nabal tosquiava as suas ovelhas,
5 e enviou-lhe dez mancebos, dizendo-lhes: Subi ao Carmelo, ide a Nabal e perguntai-lhe, em meu nome, como está.
6 Assim lhe direis: Paz seja contigo, e com a tua casa, e com tudo o que tens.
7 Agora, pois, tenho ouvido que tens tosquiadores. Ora, os pastores que
tens acabam de estar conosco; agravo nenhum lhes fizemos, nem lhes
desapareceu coisa alguma por todo o tempo que estiveram no Carmelo.
8 Pergunta-o aos teus mancebos, e eles to dirão. Que achem,
portanto, os teus servos graça aos teus olhos, porque viemos em
boa ocasião. Dá, pois, a teus servos e a Davi, teu filho,
o que achares à mão.
9 Chegando, pois, os mancebos de Davi, falaram a Nabal todas aquelas palavras em nome de Davi, e se calaram.
10 Ao que Nabal respondeu aos servos de Davi, e disse: Quem é
Davi, e quem o filho de Jessé? Muitos servos há que hoje
fogem ao seu senhor.
11 Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne
das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores, e os daria a
homens que não sei donde vêm?
12 Então, os mancebos de Davi se puseram a caminho e, voltando, vieram anunciar-lhe todas estas palavras.
13 Pelo que disse Davi aos seus homens: Cada um cinja a sua espada. E
cada um cingiu a sua espada, e Davi também cingiu a sua, e
subiram após Davi cerca de quatrocentos homens, e duzentos
ficaram com a bagagem.
14 Um dentre os mancebos, porém, o anunciou a Abigail, mulher de
Nabal, dizendo: Eis que Davi enviou mensageiros desde o deserto a
saudar o nosso amo; e ele os destratou.
15 Todavia, aqueles homens têm-nos sido muito bons, e nunca fomos
agravados deles, e nada nos desapareceu por todo o tempo em que
convivemos com eles quando estávamos no campo.
16 De muro em redor nos serviram, assim de dia como de noite, todos os dias que andamos com eles apascentando as ovelhas.
17 Considera, pois, agora e vê o que hás de fazer, porque
o mal já está de todo determinado contra o nosso amo e
contra toda a sua casa; e ele é tal filho de Belial, que
não há quem lhe possa falar.
Abigail apazigua a Davi
18 Então, Abigail se apressou, e tomou duzentos
pães, dois odres de vinho, cinco ovelhas assadas, cinco medidas
de trigo tostado, cem cachos de passas, e duzentas pastas de figos
secos, e os pôs sobre jumentos.
19 E disse aos seus mancebos: Ide adiante de mim; eis que vos seguirei
de perto. Porém não o declarou a Nabal, seu marido.
20 E quando ela, montada num jumento, ia descendo pelo encoberto do
monte, eis que Davi e os seus homens lhe vinham ao encontro; e ela se
encontrou com eles.
21 Ora, Davi tinha dito: Na verdade que em vão tenho guardado
tudo quanto este tem no deserto, de sorte que nada lhe faltou de tudo
quanto lhe pertencia; e ele me pagou mal por bem.
22 Assim faça Deus a Davi, e outro tanto, se eu deixar
até o amanhecer, de tudo o que pertence a Nabal, um só
varão.
23 Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, desceu do jumento e
prostrou-se sobre o seu rosto diante de Davi, inclinando-se à
terra,
24 e, prostrada a seus pés, lhe disse: Ah! Senhor meu, minha
seja a iniquidade! Deixa a tua serva falar aos teus ouvidos, e ouve as
palavras da tua serva.
25 Rogo-te, meu senhor, que não faças caso deste homem de
Belial, a saber, Nabal; porque tal é ele qual é o seu
nome. Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele; mas
eu, tua serva, não vi os mancebos de meu senhor, que enviaste.
26 Agora, pois, meu senhor, vive o Senhor, e vive a tua alma, porquanto
o Senhor te impediu de derramares sangue, e de te vingares com a tua
própria mão, sejam agora como Nabal os teus inimigos e os
que procuram fazer o mal contra o meu senhor.
27 Aceita agora este presente que a tua serva trouxe a meu senhor; seja ele dado aos mancebos que seguem ao meu senhor.
28 Perdoa, pois, a transgressão da tua serva; porque certamente
fará o Senhor casa firme a meu senhor, pois meu senhor guerreia
as guerras do Senhor; e não se achará mal em ti por todos
os teus dias.
29 Se alguém se levantar para te perseguir, e para buscar a tua
vida, então, a vida de meu senhor será atada no feixe dos
que vivem com o Senhor, teu Deus; porém a vida de teus inimigos,
ele arrojará ao longe, como do côncavo de uma funda.
30 Quando o Senhor tiver feito para com o meu senhor conforme todo o
bem que já tem dito de ti, e te houver estabelecido por
príncipe sobre Israel,
31 então, meu senhor, não terás no
coração esta tristeza nem este remorso de teres derramado
sangue sem causa, ou de haver-se vingado o meu senhor a si mesmo. E
quando o Senhor fizer bem a meu senhor, lembra-te da tua serva.
32 Ao que Davi disse a Abigail: Bendito seja o Senhor Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro!
33 E bendito seja o teu conselho, e bendita sejas tu, que hoje me
impediste de derramar sangue, e de vingar-me pela minha própria
mão!
34 Pois, na verdade, vive o Senhor, Deus de Israel, que me impediu de
te fazer mal, que se tu não te apressaras e não me vieras
ao encontro, não teria ficado a Nabal até a luz da
manhã nem mesmo um menino.
35 Então, Davi aceitou da mão dela o que lhe tinha trazido, e lhe disse: Sobe em paz à tua casa;
bem vês que ouvi a tua petição e a ela atendi.
A morte de Nabal
36 Ora, quando Abigail voltou para Nabal, eis que ele
fazia em sua casa um banquete, como banquete de rei; e o
coração de Nabal estava alegre, pois ele estava muito
embriagado; pelo que ela não lhe deu a entender nada daquilo,
nem pouco nem muito, até a luz da manhã.
37 Sucedeu, pois, que, pela manhã, estando Nabal já livre
do vinho, sua mulher lhe contou essas coisas; de modo que o seu
coração desfaleceu, e ele ficou como uma pedra.
38 Passados uns dez dias, o Senhor feriu a Nabal, e ele morreu.
Davi casa com Abigail
39 Quando Davi ouviu que Nabal morrera, disse: Bendito
seja o Senhor, que me vingou da afronta que recebi de Nabal, e deteve
do mal a seu servo, fazendo cair a maldade de Nabal sobre a sua
cabeça. Depois, mandou Davi falar a Abigail, para tomá-la
por mulher.
40 Vindo, pois, os servos de Davi a Abigail, no Carmelo, lhe falaram,
dizendo: Davi nos mandou a ti, para te tomarmos por sua mulher.
41 Ao que ela se levantou, e se inclinou com o rosto em terra, e disse:
Eis que a tua serva servirá de criada para lavar os pés
dos servos de meu senhor.
42 Então, Abigail se apressou e, levantando-se, montou num
jumento, e levando as cinco moças que lhe assistiam, seguiu os
mensageiros de Davi, que a recebeu por mulher.
43 Davi tomou também a Ainoã de Jizreel; e ambas foram suas mulheres.
44 Pois Saul tinha dado sua filha Mical, mulher de Davi, a Palti, filho de Laís, o qual era de Galim.
Davi, outra vez, poupa a vida de Saul
26 Ora, vieram os zifeus a Saul, a
Gibeá, dizendo: Não está Davi se escondendo no
outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom?
2 Então, Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, levando
consigo três mil homens escolhidos de Israel, para buscar a Davi
no deserto de Zife.
3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom,
junto ao caminho; porém Davi ficou no deserto, e percebendo que
Saul vinha após ele ao deserto,
4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha chegado.
5 Então, Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul se tinha
acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam Saul e Abner, filho de Ner,
chefe do seu exército. E Saul estava deitado dentro do
acampamento, e o povo estava acampado ao redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu, e a Abisai,
filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou: Quem descerá
comigo a Saul, ao arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e eis que Saul estava
deitado, dormindo dentro do acampamento, e a sua lança estava
pregada na terra à sua cabeceira; e Abner e o povo estavam
deitados ao redor dele.
8 Então, disse Abisai a Davi: Deus te entregou hoje nas
mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo na
terra, com a lança, de um só golpe; não o ferirei
segunda vez.
9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates; pois quem pode
estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará o
seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e perecerá.
11 O Senhor, porém, me guarde de que eu estenda a mão
contra o ungido do Senhor. Agora, pois, toma a lança que
está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e vamo-nos.
12 Tomou, pois, Davi a lança e a bilha d'água da
cabeceira de Saul, e eles se foram. Ninguém houve que o visse,
nem que o soubesse, nem que acordasse; porque todos estavam dormindo,
pois da parte do Senhor havia caído sobre eles um profundo sono.
13 Então Davi, passando à outra banda, pôs-se no
cume do monte, ao longe, de maneira que havia grande distância
entre eles.
14 E Davi bradou ao povo, e a Abner, filho de Ner, dizendo: Não
responderás, Abner? Então, Abner respondeu e disse: Quem
és tu, que bradas ao rei?
15 Ao que disse Davi a Abner: Não és tu um homem? E quem
há em Israel como tu? Por que, então, não
guardaste o rei, teu senhor? Porque um do povo veio para destruir o
rei, teu senhor.
16 Não é bom isso que fizeste. Vive o Senhor, que sois
dignos de morte, porque não guardastes a vosso senhor, o ungido
do Senhor. Vede, pois, agora onde está a lança do rei, e
a bilha d'água que estava à sua cabeceira.
Saul, outra vez, se reconcilia com Davi
17 Saul reconheceu a voz de Davi, e disse: Não
é esta a tua voz, meu filho Davi? Respondeu Davi: E minha voz,
ó rei, meu senhor.
18 Disse mais: Por que o meu senhor persegue tanto o seu servo? Que fiz eu? E que maldade se acha na minha mão?
19 Ouve, pois, agora, ó rei, meu senhor, as palavras de teu
servo: Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele uma
oferta; se, porém, são os filhos dos homens, malditos
sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu
não tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve
a outros deuses.
20 Agora, pois, não caia o meu sangue em terra fora da
presença do Senhor; pois saiu o rei de Israel em busca duma
pulga, como quem persegue uma perdiz nos montes.
21 Então, disse Saul: Pequei; volta, meu filho Davi, pois
não tornarei a fazer-te mal, porque a minha vida foi hoje
preciosa aos teus olhos. Eis que procedi como um louco, e errei
grandissimamente.
22 Davi, então, respondeu e disse: Eis aqui a lança, ó rei! Venha cá um os mancebos, e leve-a.
23 O Senhor, porém, pague a cada um a sua justiça e a sua
lealdade; pois o Senhor te entregou hoje na minha mão, mas eu
não quis estender a mão contra o ungido do Senhor.
24 E assim como foi a tua vida hoje preciosa aos meus olhos, seja a
minha vida preciosa aos olhos do Senhor, e livre-me ele de toda a
tribulação.
25 Então, Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, meu filho Davi,
pois grandes coisas farás e também certamente
prevalecerás. Então, Davi se foi o seu caminho e Saul
voltou para o seu lugar.
Davi, outra vez, com Aquis, rei de Gate
27 Disse, porém, Davi no seu
coração: Ora, perecerei ainda algum dia pela mão
de Saul; não há coisa melhor para mim do que escapar para
a terra dos filisteus, para que Saul perca a esperança de mim, e
cesse de me buscar por todos os termos de Israel; assim, escaparei da
sua mão.
2 Então, Davi se levantou e passou, com os seiscentos homens que com ele estavam, para
Aquis, filho de Maoque, rei de Gate.
3 E Davi ficou com Aquis em Gate, ele e os seus homens, cada um com a
sua família, e Davi com as suas duas mulheres, Ainoã, a
jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o carmelita.
4 Ora, sendo Saul avisado de que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo.
5 Disse Davi a Aquis: Se eu tenho achado graça aos teus olhos,
que se me dê lugar numa das cidades do país, para que eu
ali habite; pois, por que haveria o teu servo de habitar contigo na
cidade real?
6 Então, lhe deu Aquis, naquele dia, a cidade de Ziclague; pelo
que Ziclague pertence aos reis de Judá, até o dia de hoje.
7 E o número dos dias que Davi habitou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8 Ora, Davi e os seus homens subiam e davam sobre os gesuritas, e os
girzitas, e os amalequitas; pois, desde tempos remotos, eram estes os
moradores da terra que se estende na direção de Sur
até a terra do Egito.
9 E Davi feria aquela terra, não deixando com vida nem homem nem
mulher; e, tomando ovelhas, bois, jumentos, camelos e
vestuários, voltava, e vinha a Aquis.
10 E quando Aquis perguntava: Sobre que parte fizestes incursão
hoje? Davi respondia: Sobre o Negebe de Judá; ou: Sobre o Negebe
dos jerameelitas; ou: Sobre o Negebe dos queneus.
11 E Davi não deixava com vida nem homem nem mulher para
trazê-los a Gate, pois dizia: Para que porventura não nos
denunciem, dizendo: Assim fez Davi. E este era o seu costume por todos
os dias que habitou na terra dos filisteus.
12 Aquis, pois, confiava em Davi, dizendo: Fez-se ele por certo
aborrecível para com o seu povo em Israel; pelo que me
será por servo para sempre.
Saul consulta a médium de En-Dor
28
Naqueles dias, ajuntaram os filisteus os seus exércitos para a guerra, para pelejarem contra Israel. Disse
Aquis a Davi: Sabe de certo que sairás comigo ao arraial, tu e os teus homens.
2 Respondeu Davi a Aquis: Assim saberás o que o teu servo há de fazer. E disse
Aquis a Davi: Por isso te farei para sempre guarda da minha pessoa.
3 Ora, Samuel já havia morrido, e todo o Israel o tinha chorado,
e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade. E Saul tinha
desterrado os necromantes e os adivinhos.
4 Ajuntando-se, pois, os filisteus, vieram acampar-se em Suném;
Saul ajuntou também todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.
5 Vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu e estremeceu muito o seu coração.
6 Pelo que consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não
lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.
7 Então, disse Saul aos seus servos: Buscai-me uma necromante,
para que eu vá a ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos:
Eis que em En-Dor há uma mulher que é necromante.
8 Então, Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi
ele com dois homens, e chegaram de noite à casa da mulher.
Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me
faças subir aquele que eu te disser.
9 A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou
da terra os necromantes e os adivinhos; por que, então, me armas
um laço à minha vida, para me fazeres morrer?
10 Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Como vive o Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso.
11 A mulher, então, lhe perguntou: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel.
12 Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me enganaste?
Pois tu mesmo és Saul.
13 Ao que o rei lhe disse: Não temas; que é que
vês? Então, a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que
vem subindo de dentro da terra.
14 Perguntou-lhe ele: Como é a sua figura? E disse ela: Vem
subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo
Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez
reverência.
15 Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir?
Então, disse Saul: Estou muito angustiado, porque os filisteus
guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e já
não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por
sonhos; por isso te chamei, para que me faças saber o que hei de
fazer.
16 Então, disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto
que o Senhor se tem desviado de ti, e se tem feito teu inimigo?
17 O Senhor te fez como por meu intermédio te disse; pois o
Senhor rasgou o reino da tua mão, e o deu ao teu próximo,
a Davi.
18 Porquanto não deste ouvidos à voz do Senhor, e
não executaste o furor da sua ira contra Amaleque, por isso o
Senhor te fez hoje isto.
19 E o Senhor entregará também a Israel contigo na
mão dos filisteus. Amanhã, tu e teus filhos estareis
comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão
dos filisteus.
20 Imediatamente, Saul caiu estendido por terra, tomado de grande medo
por causa das palavras de Samuel; e não houve força nele,
porque nada havia comido todo aquele dia e toda aquela noite.
21 Então, a mulher se aproximou de Saul e, vendo que estava
tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua serva deu ouvidos
à tua voz; arriscando a minha vida, dando ouvidos às
palavras que disseste.
22 Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e
permite que eu ponha um bocado de pão diante de ti; come, para
que tenhas forças quando te puseres a caminho.
23 Ele, porém, recusou, dizendo: Não comerei. Mas os seus
servos e a mulher o constrangeram, e ele deu ouvidos à sua voz;
e levantando-se do chão, sentou-se na cama.
24 Ora, a mulher tinha em casa um bezerro cevado; apressou-se, pois, e
o degolou; também tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos
asmos.
25 Então, pôs tudo diante de Saul e de seus servos; e eles
comeram. Depois, levantaram-se e partiram naquela mesma noite.
Os filisteus desconfiam de Davi
29 Os filisteus ajuntaram todos os seus
exércitos em Afeque; e acamparam-se os israelitas junto à
fonte que está em Jizreel.
2 Então, os chefes dos filisteus se adiantaram com centenas e com milhares; e Davi e os seus homens iam com
Aquis na retaguarda.
3 Perguntaram os chefes dos filisteus: Que fazem aqui estes hebreus?
Respondeu Aquis aos chefes dos filisteus: Não é este
Davi, o servo de Saul, rei de Israel, que tem estado comigo alguns dias
ou anos? E nenhuma culpa tenho achado nele, desde o dia em que se
revoltou, até o dia de hoje.
4 Mas os chefes dos filisteus muito se indignaram contra ele, e
disseram a Aquis: Faze voltar este homem para que torne ao lugar em que
o puseste; não desça ele conosco à batalha, a fim
de que não se torne nosso adversário no combate; pois,
como se tornaria este agradável a seu senhor? Porventura
não seria com as cabeças destes homens?
5 Este não é aquele Davi, a respeito de quem cantavam nas
danças: Saul feriu os seus milhares, mas Davi os seus dez
milhares?
6 Então, Aquis chamou a Davi e disse-lhe: Como vive o Senhor, tu
és reto, e a sua entrada e saída comigo no arraial
é boa aos meus olhos, pois nenhum mal tenho achado em ti, desde
o dia em que vieste ter comigo, até o dia de hoje; porém
aos chefes não agradas.
7 Volta, pois, agora, e vai em paz, para não desagradares os chefes dos filisteus.
8 Ao que Davi disse a Aquis: Por quê? Que fiz eu? Ou, que achaste
no teu servo, desde o dia em que vim ter contigo, até o dia de
hoje, para que eu não vá pelejar contra os inimigos do
rei, meu senhor?
9 Respondeu, porém, Aquis e disse a Davi: Bem o sei; e, na
verdade, aos meus olhos és bom como um anjo de Deus; contudo, os
chefes dos filisteus disseram: Este não há de subir
conosco à batalha.
10 Levanta-te, pois, amanhã de madrugada, tu e teus servos que
vieram contigo; e, tendo vos levantado de madrugada, parti logo que
haja luz.
11 Madrugaram, pois, Davi e os seus homens, a fim de partirem, pela
manhã, e voltarem à terra dos filisteus; e os filisteus
subiram a Jizreel.
Ziclague é saqueada pelos amalequitas
30 Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os
seus homens ao terceiro dia a Ziclague, os amalequitas tinham feito uma
incursão sobre o Negebe, e sobre Ziclague, e tinham ferido a
Ziclague e a tinham queimado a fogo;
2 e tinham levado cativas as mulheres, e todos os que estavam nela,
tanto pequenos como grandes; a ninguém, porém, mataram,
tão-somente os levaram consigo, e foram o seu caminho.
3 Quando Davi e os seus homens chegaram à cidade, eis que estava
queimada a fogo, e suas mulheres, seus filhos e suas filhas tinham sido
levados cativos.
4 Então, Davi e o povo que se achava com ele alçaram a
sua voz, e choraram, até que não ouve neles mais
forças para chorar.
5 Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas:
Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o
carmelita.
6 Também Davi se angustiou; pois o povo falava em
apedrejá-lo, porquanto a alma de todo o povo estava amargurada
por causa de seus filhos e de suas filhas. Mas Davi se fortaleceu no
Senhor, seu Deus.
Davi livra os cativos
7 Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui o éfode. E Abiatar trouxe o éfode a Davi.
8 Então, consultou Davi ao Senhor, dizendo: Perseguirei eu a
esta tropa? Alcançá-la-ei? Respondeu-lhe o Senhor:
Persegue-a; porque de certo a alcançarás e tudo
recobrarás.
9 Ao que partiu Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se
achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor, onde pararam os que tinham
ficado para trás.
10 Mas Davi ainda os perseguia, com quatrocentos homens, enquanto que
duzentos ficaram atrás, por não poderem, de cansados que
estavam, passar o ribeiro de Besor.
11 Ora, acharam no campo um egípcio, e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão a comer, e água a beber;
12 deram-lhe também um pedaço de massa de figos secos e
dois cachos de passas. Tendo ele comido, voltou-lhe o ânimo; pois
havia três dias e três noites que não tinha comido
pão nem bebido água.
13 Então, Davi lhe perguntou: De quem és tu, e donde
vens? Respondeu ele: Sou um moço egípcio, servo dum
amalequita; e o meu senhor me abandonou, porque adoeci há
três dias.
14 Nós fizemos uma incursão sobre o Negebe dos queretitas, sobre o território de Judá e
contra o lado sul de Calebe, e pusemos fogo a Ziclague.
15 Perguntou-lhe Davi: Poderias descer e guiar-me a essa tropa?
Respondeu ele: Jura-me tu por Deus que não me matarás,
nem me entregarás na mão de meu senhor, e eu descerei e
te guiarei a essa tropa.
16 Desceu, pois, e o guiou; e eis que eles estavam espalhados sobre a
face de toda a terra, comendo, bebendo e dançando, por causa de
todo aquele grande despojo que haviam tomado da terra dos filisteus e a
terra de Judá.
17 Então, Davi os feriu, desde o crepúsculo até a
tarde do dia seguinte, e nenhum deles escapou, senão só
quatrocentos mancebos que, montados sobre camelos, fugiram.
18 Assim, recobrou Davi tudo quanto os amalequitas haviam tomado; também libertou as suas duas mulheres.
19 De modo que não lhes faltou coisa alguma, nem pequena nem
grande, nem filhos nem filhas, nem qualquer coisa de tudo quanto os
amalequitas lhes haviam tomado; tudo Davi tornou a trazer.
20 Davi lhes tomou também todos os seus rebanhos e manadas; e o levavam diante
de Davi e diziam: Este é o despojo de Davi.
Davi estabelece a lei da divisão da presa
21 Quando Davi chegou aos duzentos homens que, de
cansados que estavam, não tinham podido segui-los, e que foram
obrigados a ficar ao pé do ribeiro de Besor, estes saíram
ao encontro de Davi e do povo que com ele vinha; e Davi, aproximando-se
deles, os saudou em paz.
22 Então, todos os malvados e perversos, dentre os homens que
tinham ido com Davi, disseram: Visto que não foram conosco, nada
lhes daremos do despojo que recobramos, senão a cada um sua
mulher e seus filhos, para que os levem e se retirem.
23 Mas Davi disse: Não fareis assim, irmãos meus, com o
que nos deu o Senhor, que nos guardou e entregou nas nossas mãos
a tropa que vinha contra nós.
24 E quem vos daria ouvidos nisso? Pois qual é a parte dos que
desceram à batalha, tal será também a parte dos
que ficaram com a bagagem; receberão partes.
25 E assim foi daquele dia em diante, ficando estabelecido por estatuto e direito em Israel, até o dia de hoje.
26 Quando Davi chegou a Ziclague, enviou do despojo aos anciãos
de Judá, seus amigos, dizendo: Eis aí para vós um
presente do despojo dos inimigos do Senhor;
27 aos de Betel, aos de Ramote do Sul, e aos de Jatir;
28 aos de Aroer, aos de Sifmote, e aos de Estemoa;
29 aos de Racal, aos das cidades dos jerameelitas, e aos das cidades dos queneus;
30 aos de Horma, aos de Borasã, e aos de Atace;
31 e aos de Hebrom, e aos de todos os lugares que Davi e os seus homens costumavam frequentar.
A derrota de Israel e a morte de Saul
31 Ora, os filisteus pelejaram contra
Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e
caíram mortos no monte Gilboa.
2 E os filisteus apertaram com Saul e seus filhos, e mataram a Jônatas, a Abinadabe e a Malquisua, filhos de Saul.
3 A peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros o alcançaram, e o feriram gravemente.
4 Pelo que disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada, e
atravessa-me com ela, para que, porventura, não venham esses
incircuncisos e me atravessem e escarneçam de mim. Mas o seu
escudeiro não quis, porque temia muito. Então, Saul tomou
a espada, e se lançou sobre ela.
5 Vendo, pois, o seu escudeiro que Saul já era morto,
também ele se lançou sobre a sua espada, e morreu com ele.
6 Assim, morreram juntamente naquele dia Saul, seus três filhos, e seu escudeiro, e todos os seus homens.
7 Quando os israelitas que estavam no outro lado do vale e os que
estavam além de Jordão viram que os homens de Israel
tinham fugido, e que Saul e seus filhos estavam mortos, abandonaram as
suas cidades e fugiram; e vieram os filisteus e habitaram nelas.
A sepultura de Saul
8 No dia seguinte, quando os filisteus vieram para
despojar os mortos, acharam Saul e seus três filhos estirados no
monte Gilboa.
9 Então, cortaram a cabeça a Saul e o despojaram das suas armas; e enviaram pela
terra dos filisteus, em redor, a anunciá-lo no templo dos seus ídolos e
entre e povo.
10 Puseram as armas de Saul no templo de Astarote; e penduraram o seu corpo no muro de Bete-Seã.
11 Quando os moradores de Jabes-Gileade ouviram isso a respeito de Saul, isto é, o que os filisteus lhe tinham feito,
12 todos os homens valorosos se levantaram e, caminhando a noite toda,
tiraram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro de
Bete-Seã; e voltando a Jabes, ali os queimaram.
13 Depois, tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo da tamargueira, em Jabes, e jejuaram sete dias.
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